A COP30 deixou claro que a transição climática entrou de vez na agenda das empresas.

O tema foi debatido por executivos da Vale, Electrolux, Santander e EY, junto com a CEO da COP30, Ana Toni, num evento realizado pelo Brazil Journal. Todos foram unânimes em um ponto: a transição só escala se a conta fechar.

Ana Toni reforçou que custo de capital, risco soberano e reforma dos bancos multilaterais tornaram-se temas centrais da política climática. O Brasil levou às negociações um plano para mobilizar US$ 1,3 trilhão para países em desenvolvimento com foco em reduzir o custo do financiamento e criar novos instrumentos para combater o choque climático. 

Ana Toni ok

A mensagem: sem atacar o custo do dinheiro, a transição não sai do lugar.

Do lado das empresas, o diagnóstico foi igualmente pragmático. Vivian Mac Knight, a gerente-geral de mudanças climáticas da Vale, disse que a mineradora já mapeou alternativas tecnológicas para reduzir emissões, mas os projetos continuam travados por falta de viabilidade financeira. 

“A conta não fecha,” disse MacKnight.

O chamado escopo 3, que congrega as emissões indiretas das companhias, é o maior gargalo: 98% das emissões da Vale estão na cadeia de fornecimento, principalmente na siderurgia chinesa. 

A Electrolux trouxe a perspectiva do consumo. O ciclo de vida dos produtos mostra que 85% das emissões vêm do uso, não da fábrica. Geladeiras e freezers respondem por cerca de 7% do consumo de energia elétrica do País. Substituir milhões de aparelhos antigos por modelos eficientes poderia reduzir o consumo nacional em 1%, mas depende de crédito barato.

João Zeni, o diretor de sustentabilidade da empresa, voltou da COP30 convencido de que o setor privado explora pouco os fundos internacionais disponíveis. Ele já mapeia projetos para financiar a troca de eletrodomésticos com prazos longos e juros reduzidos.

O consumidor, porém, não paga prêmio por sustentabilidade. 

Esther Unzueta, a líder de financiamento sustentável do Santander, reforçou a necessidade de padronização dos indicadores de sustentabilidade e criticou a importação de métricas europeias para o contexto brasileiro. “Métrica demais vira burocracia,” disse. 

Ricardo Assumpção, sócio da EY, trouxe a questão para o P&L das empresas. Para ele, o Brasil é uma potência verde natural, mas não industrial, e a economia circular é uma das maiores oportunidades ainda não monetizadas. “É onde tem dinheiro na mesa,” disse Assumpção.

O consenso dos painéis foi de que a transição não será definida por narrativas, mas por retorno ajustado ao risco. Sem padronização, sem instrumentos financeiros robustos e sem redução do custo de capital, os projetos ficarão na gaveta.

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