Nos últimos meses, as ações da CESP voltaram a atrair os investidores com a perspectiva de dividendos eletrizantes, mas alguns gestores acham que está na hora de desligar o investimento na tomada.
As poucas chuvas no Brasil no segundo semestre de 2013 e no início deste ano fizeram explodir o preço da energia no mercado à vista, de 150 para 800 reais por megawatt-hora. A CESP era uma das empresas que mais tinha energia ‘descontratada’, ou seja, livre para venda.
Ao desovar essa energia no início do ano, a CESP viu chover em seu balanço tudo que não chove no Cantareira, e o mercado passou a projetar que essa fartura se estenderá por muitos meses, levando a empresa a pagar um vultoso dividendo este ano ou em 2015.
Resultado: com uma alta de 40% nos últimos seis meses, a CESP voltou ao preço em que negociava antes da Medida Provisória 579, aquela usada pelo Governo para forçar uma queda no preço da energia na ponta, e que dinamitou para sempre os balanços das geradoras. Como resultado da MP, as ações da CESP caíram de cerca de 33 reais para 13.
Por que, então, alguns investidores acham que a ação — agora de volta a 31 reais, graças aos lucros extraordinários no mercado spot — está cara e apostam em sua queda?
Como as chuvas no Sudeste continuam escassas, o maestro do setor elétrico, o Operador Nacional do Sistema (ONS), começou a reduzir a quantidade de energia que as hidrelétricas podem despachar. Esta quantidade, conhecida pela sigla GSF, foi de 96% no primeiro trimestre, aquele em que o lucro da CESP bombou. Depois, a coisa piorou. O GSF terminou o segundo trimestre em 89% e, segundo o ONS, pode bater 87% em agosto.
O problema é que, segundo um gestor que está apostando na queda da ação, quando o GSF está ao redor de 90%, a CESP deixa de ter ganhos com a venda de energia no mercado spot. Sem o lucro extra, a ideia de um grande dividendo fica em risco.
Apesar disso, a maioria dos analistas ainda estima que a CESP pagará dividendos gordos em 2014 ou 2015. Há bancos estimando que o dividendo pode chegar a 15% do preço atual da ação em cada um dos próximos dois anos.
Mesmo que a CESP gere bastante caixa este ano, uma parte dele pode não acabar no bolso dos acionistas. O secretário de energia de São Paulo disse recentemente que a CESP está de olho em oportunidades de investimento. Hoje, 75% da capacidade de geração da CESP vem das usinas de Ilha Solteira e Jupiá. As concessões destas usinas vencem em julho de 2015, já que a CESP decidiu não renová-las antecipadamente nos termos propostos pelo governo federal.
“Se a CESP não fizer nada, daqui a um ano ela terá um quarto do tamanho que tem hoje em termos de geração,” diz um gestor. “Parece bem provável que eles queiram reinvestir o capital para tentar viabilizar a empresa sem ter que fazer cortes drásticos de pessoal.”
A diretoria da CESP deve apresentar até setembro um plano de investimentos em geração a seu conselho de administração.
O grande risco de quem aposta contra as ações da CESP é a mudança na política. Ninguém sabe se, em caso de vitória da oposição, o novo governo voltaria a mexer no marco regulatório do setor, o que poderia beneficiar a empresa.
“A CESP vale bem menos do que o preço que está na Bolsa hoje,” diz outro gestor. “Ela está com um ‘prêmio’ de eleição, mas ela não está neste preço à toa.”