A menos de 48 horas do leilão que vai vender quatro usinas que lhe pertenciam, a Cemig está tentando de tudo para reaver parte dos ativos.
 
Mesmo que isso signifique saquear os seus acionistas minoritários.
 
Neste exato momento, a Cemig está tentando convencer o Governo a retirar do leilão pelo menos uma das quatro hidrelétricas. Para honrar o seu lado do acordo, a Cemig está oferecendo à União R$ 1,1 bilhão para tirar do leilão a hidrelétrica de Miranda, de 408 megawatts.
 
Mal o mercado fechou e a estatal mineira presenteou seus acionistas com uma chamada de capital de R$ 1 bilhão, emitindo novas ações a R$ 6,57, um deságio de 20% em relação ao fechamento de hoje, a R$ 8,24.

“Isso é para pagar pela usina”, disse à Reuters o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG).
 
Hoje em dia, quem fala pela Cemig não é seu CEO, Bernardo Alvarenga, nem o Governador (sumido) de Minas, Fernando Pimentel.
 
O porta-voz da empresa é o deputado Ramalho, o mesmo que no mês passado ameaçou unir todos os deputados mineiros contra o ajuste fiscal se o Governo não desse um jeito de devolver as usinas à Cemig. 
 
Em seu Fato Relevante, a Cemig diz que o aumento de capital “servirá para robustecer a estrutura de capital e o caixa da Companhia, de modo a contribuir para a redução da sua alavancagem financeira.”

A CVM deveria questionar a estatal se esta é a forma honesta de descrever o objetivo do aumento de capital.  Ou a Cemig não está sendo transparente, ou o deputado está mentindo.
 
A mobilização da Cemig para reaver as usinas não para por aí.
 
Ramalho, o ‘deputado-RI’, disse à Reuters que a Cemig poderá vender ações da transmissora de energia Taesa para levantar os recursos necessários ao acordo.

Além disso, a Cemig tem negociado com o Citibank uma carta-fiança para pagar mais R$ 1,9 bilhão e tirar do leilão também a usina de Jaguará, de 424 megawatts. 

O que está acontecendo na Cemig é tudo aquilo que o mercado criticava na MP 579:  decisões políticas se sobrepõem a qualquer lógica econômica.
 
Uma hora, a bomba estoura no colo de alguém.
 
O conselho de administração da Cemig tem 15 membros — mas nenhum até agora fez o mesmo barulho para defender o minoritário quanto o deputado Ramalho fez para defender os supostos interesses da Cemig.

Sem as quatro usinas, a Cemig ficará uma empresa 50% menor.  Assim, serviria menos ao congressistas… perdão, ao POVO mineiro!
 
Outra empresa que precisa ter cuidado para não se contaminar com os esforços da Cemig é a Vale.
 
Segundo a Reuters, Ramalho disse que a Cemig já fechou um acordo com a Vale para que as empresas disputem em conjunto algumas das concessões por meio da Aliança Energia, uma joint venture entre as duas empresas.

“Se a Cemig não conseguir a carta de crédito, ela vai entrar no leilão de Miranda e Volta Grande com a Aliança”, disse Ramalho.
 
Como empresa consumidora de energia, é verdade que interessa à Vale ter bons contratos de energia. No Sistema Norte, a mineradora é atendida pela hidrelétrica de Tucuruí e, no Sudeste, as usinas em que a Vale possui participação já são responsáveis pelo atendimento da maior parte do consumo de energia da empresa.
 
Além disso, a empresa tem afirmado repetidamente seu objetivo de promover uma desalavancagem financeira. Vão fazer isso adquirindo ativos fora do ‘core business’ da Vale?
 
É difícil escapar da impressão de que a Vale — anos depois de privatizada — continua sendo o pára-raio preferencial das demandas dos políticos.
 
Não foi suficiente o cargo de CEO da empresa ter sido citado como mercadoria de balcão na reveladora gravação do senador Aécio Neves com Joesley Batista?