Um ponto-chave para a privatização da Sabesp será a adoção de uma regulação que incentive a eficiência da empresa, nos moldes do que acontece no setor elétrico.
A avaliação é da gestora Miles, uma acionista histórica da Sabesp.
“O modelo de regulação que incentiva a eficiência é também o que leva a menores tarifas e torna mais atrativa a aceleração de investimentos, consequentemente colaborando para a universalização dos serviços,” a Miles disse numa carta a seus cotistas.
Nesse modelo, segundo a gestora, existe um forte alinhamento entre o que maximizará valor para o investidor e o consumidor ao mesmo tempo.
A Sabesp negocia hoje a 0,75x EV/RAB, e, na avaliação da Miles, o múltiplo pode expandir para 1,5x, o que colocaria o papel a R$ 140, um upside de 135%, nos cálculos da gestora.
Sem uma regulação que incentive a eficiência, a Sabesp deveria negociar a um EV/RAB de 1x.
No papel, a regulação que hoje é aplicada à Sabesp segue um modelo de “regulação por incentivos” – mas o regulador esbarra em dificuldades estruturais do setor de saneamento, como a falta de padronização nos dados reportados pelas companhias e a baixa maturidade do setor de forma geral.
“Tais fatores dificultam a elaboração de benchmarks e a construção da estrutura de custos de uma ‘empresa de referência,” diz o texto.
A consequência disso é que, no que diz respeito aos custos regulatórios, a regulação aplicada acaba por se aproximar de um modelo de “custo de serviço” (ou cost-plus, no jargão regulatório).
A Miles enxerga um enorme potencial de crescimento da companhia se a regulação for aprimorada.
“Apenas na área de concessão atual, a Sabesp deve praticamente dobrar sua base de ativos ao concluir os investimentos necessários para a universalização.”
A empresa tem vantagem competitiva para futuramente atender o restante do Estado de São Paulo – hoje, ela cobre cerca de 70% dos consumidores do Estado – e pode se tornar o principal veículo para liderar a universalização no restante do País, acumulando relevantes ganhos de escala.
A Sabesp hoje vale R$ 40,5 bilhões na B3 e tem R$ 75 bilhões de RAB. Se conseguir dobrar seu múltiplo na Bolsa e aumentar sua RAB em R$ 66 bi nos próximos seis anos, a Miles diz que a Sabesp pode valer mais de R$ 200 bi e se tornar “a maior empresa de utility da América Latina.”