Depois de anos tendo seu modelo de negócios questionado, o C6 Bank acaba de anunciar que deu o primeiro lucro trimestral de sua história, entregando um bottom line de R$ 461 milhões no primeiro trimestre.

O CEO e fundador Marcelo Kalim disse ao Brazil Journal que o resultado é reflexo de um aumento das receitas, de custos estáveis e provisões declinantes. 

10209 6922651d 6446 0002 0000 359c8ec1c29b“O resultado foi a materialização disso tudo,” disse o fundador. “Olhando para frente vemos a mesma coisa acontecendo nos próximos trimestres, mas com a diferença de que a PDD deve parar de cair e ficar estável.”

O resultado também foi ajudado pela venda de uma parte pequena da carteira de crédito do C6, de cerca de R$ 600 milhões. Kalim disse que essa venda contribuiu “R$ 50 milhões a R$ 100 milhões” para o lucro líquido.

“Mas isso não foi relevante no todo, tanto que no segundo tri esperamos ter um lucro ainda maior, e não vai ter nenhuma venda de carteira,” disse ele. 

O C6 disse que o resultado levou a um ROE de impressionantes 58,6% no trimestre — um valor muito superior ao dos bancões (o Itaú tem operado com um ROE de 20%) e ao do Nubank, que tem entregado um ROE acima de 40% no Brasil. 

Kalim disse que chega nesse ROE deduzindo R$ 1,23 bilhão de dívidas subordinadas do PL do banco, que com isso cai de R$ 4,6 bi para R$ 3,3 bi.

Executivos de outros bancos, no entanto, dizem que uma forma mais conservadora de calcular o ROE seria considerar o patrimônio líquido total (incluindo a dívida subordinada) e excluir a venda da carteira (que gera um efeito one-off), o que levaria o ROE para cerca de 31%. 

“A dívida subordinada permite alavancar o capital em 11x. Não dá para tirar capital que não é meu do PL, e não tirar o benefício que ele gera do outro lado,” disse um banqueiro. “Já a venda da carteira é a antecipação de um resultado, e um fator não-recorrente.”

Outro fator que ajudou no lucro líquido do C6 foi um ganho fiscal de R$ 42 milhões — que veio provavelmente da ativação de prejuízos acumulados. 

Retirando do resultado R$ 70 milhões da venda da carteira (um midpoint da faixa dada por Kalim), removendo o ganho fiscal e assumindo um IR de 30% (o mesmo que o Nubank), o lucro do C6 teria sido de cerca de R$ 240 milhões, o que levaria a um ROE perto de 21% (mais em linha com o setor). 

Independente do tamanho do ROE, o C6 conseguiu entregar uma forte alavancagem operacional no trimestre.  

A receita subiu de R$ 1,26 bilhão no primeiro tri de 2023 para R$ 2,17 bilhões agora, ao mesmo tempo em que as despesas operacionais cresceram apenas 8% — saindo de R$ 793 milhões para R$ 858 milhões.

Já as despesas com provisões para devedores duvidosos (PDD) caíram de R$ 625 milhões um ano atrás para R$ 513 milhões agora. 

O C6 disse que as receitas cresceram por conta da expansão e diversificação da carteira de crédito e pelo incremento das receitas com serviços. 

O banco expandiu sua carteira de crédito de R$ 34 bilhões em março de 2023 para R$ 46,3 bilhões no primeiro tri deste ano, com a maior parte da carteira concentrada em créditos com garantia. 

Hoje 48% da carteira do C6 é de crédito consignado, seguido pelo crédito para pessoa física (21%), veículos (21%), crédito para pessoa jurídica (9%), e home equity (1%). 

Kalim disse que a receita de serviços tem melhorado porque o banco tem conseguido aumentar o engajamento dos clientes e a principalidade. 

“Mais da metade dos clientes de alta renda que entram no banco transformam o C6 em seu banco principal, com mais de 50% de seus gastos com cartão ficando com a gente,” disse Kalim. “E o tempo médio que leva para isso acontecer tem diminuído, de 9 meses um ano atrás para 6 meses agora.” 

Outro indicador que melhorou no trimestre foi o índice de inadimplência, com o NPL 90 dias saindo de 4,7% no primeiro tri do ano passado para 3,4% no final do quarto tri e 3,2% no final do primeiro tri. 

Nos últimos anos, o C6 vinha sofrendo com uma piora relevante da inadimplência — que afetou todo o mercado — com o NPL 90 dias chegando a atingir 5,3% no final de 2022.

O outro fundador do C6, Luiz Marcelo Calicchio, o ‘Teco’, disse que a pandemia gerou uma discrepância no comportamento dos consumidores. “Sobrou muita renda na mão das famílias e o que elas compravam, elas pagavam. Então o mau pagador passou a ter um comportamento de bom pagador, o que fez todo mundo expandir as carteiras, e levou a um resultado pior que o esperado.”

Isso fez o banco ter que elevar muito suas provisões, o que impactou os resultados dos últimos anos, levando aos prejuízos e à queima de caixa. 

Segundo ele, no entanto, toda a limpeza dessa safra já foi feita no período de fevereiro de 2022 a maio de 2023, e agora o C6 não tem mais nada de PDD de eventos anteriores para absorver. 

O primeiro lucro trimestral do C6 vem três anos depois do JP Morgan se tornar sócio do banco, comprando 46% do capital.