O JP Morgan aumentou sua participação no C6, capitalizando o banco digital de Marcelo Kalim num momento em que seu prejuízo não para de aumentar, consumindo a Basiléia num ritmo frenético. 

O banco americano — que tinha comprado 40% do C6 há pouco mais de dois anos — aumentou sua participação para 46% do capital. 

10209 6922651d 6446 0002 0000 359c8ec1c29bO valor do investimento e o valuation não foram revelados, mas devem se tornar públicos no próximo filing que o banco fizer no Banco Central, dado que o C6 terá que reportar o aumento de seu patrimônio líquido. 

No investimento inicial do JP Morgan, em junho de 2021, a estimativa do mercado era que o banco americano havia avaliado o C6 em R$ 25 bilhões, injetando R$ 10 bilhões no caixa da fintech. 

Uma fonte a par do assunto disse ao Brazil Journal que o JP Morgan tinha uma ‘opção de compra’ para chegar ao controle do C6, mas optou por não exercê-la dada a dinâmica de resultados do banco digital.

Num momento em que fintechs como Nubank, Inter e até o Picpay comemoram a chegada à rentabilidade, o C6 teve um prejuízo líquido de R$ 2,2 bilhões no ano passado — 3x maior que o de 2021.

No primeiro tri deste ano — o último reportado — o prejuízo também aumentou na comparação anual, passando de R$ 228 milhões para R$ 350 milhões. 

Esses prejuízos constantes têm consumido o índice de Basileia do C6 — que mede o capital do banco como proporção de seus ativos ponderados pelo risco, um indicativo da saúde financeira da instituição. 

No segundo tri do ano passado, a Basileia do C6 estava em 21,3%, mas caiu para 17,3% no terceiro tri, 14,9% no quarto e 11,9% no primeiro tri deste ano.

O mínimo exigido pelo Banco Central é de 10,5% — um patamar que provavelmente o C6 deve ter atingido ou chegado perto no final do segundo tri, obrigando o aporte de capital do JP Morgan.

No final do primeiro tri, a Basileia do C6 era a mais baixa dentre os grandes bancos digitais, segundo os dados do Banco Central. A Basileia do Inter e do Nubank, por exemplo, estava em cerca de 23%; a do Original, que pertence à J&F Investimentos, estava em 12,7%. (O banco dos irmãos Batista recebeu um aporte de R$ 500 milhões em julho). 

Para um analista do setor financeiro, o problema do C6 é que o banco cresceu muito rápido — e abrindo muitas frentes ao mesmo tempo. 

Quando o mercado deteriorou, com uma piora da qualidade de crédito e aumento da inadimplência, o banco teve que aumentar muito suas provisões. Além disso, o C6 tem tido dificuldade para monetizar sua base de clientes, gerando uma receita pequena para seu tamanho.

No primeiro trimestre, por exemplo, o C6 fez um net interest income (NII) — a receita líquida de juros — de R$ 953 milhões. Boa parte disso, no entanto, foi consumido pelas provisões, que somaram R$ 634 milhões no período. 

O banco também tem uma estrutura pesada. As despesas com pessoal somaram R$ 230 milhões no primeiro trimestre, e as despesas administrativas, cerca de R$ 500 milhões. 

Outro analista acha que o fato do JP Morgan abrir mão de assumir o controle agora sugere que o banco americano já desistiu do ativo – e que a capitalização parece ser um uma última tentativa. 

Em nota à imprensa — a única comunicação do JP Morgan hoje —, o chefe de estratégia e crescimento do JP Morgan, Sanoke Viswanathan, se disse confiante com o futuro da investida. 

“Nosso investimento estratégico no C6 é uma parte importante da estratégia global de serviços bancários digitais do JPMorgan. O rápido crescimento dos clientes, produtos e balanço patrimonial demonstra o sucesso da abordagem do C6,” disse ele. 

Desde junho de 2021, o número de clientes cadastrados do C6 passou de 8 milhões para 25 milhões, e o portfólio de crédito saltou de R$ 9,5 bilhões para R$ 40 bi. 

Um investidor diz que o aporte do JP foi uma surpresa, já que havia rumores de que o banco americano não tinha a intenção de colocar mais dinheiro no C6. “Eles fizeram o primeiro investimento no pico do mercado e a um valuation astronômico. Já gastaram muita bala nisso… O consenso do mercado é que agora eles iam deixar que os outros sócios aportassem,” disse ele.

Depois do JP Morgan, os maiores acionistas do C6 são o CEO Marcelo Kalim, Leandro Torres, Teco Calicchio e Adriano Ghelman, além de um pequeno grupo de executivos.