Mais um ícone do varejo de vestuário vai à lona.

A Brooks Brothers, a loja de ternos que já vestiu metade de Wall Street, acaba de entrar com um pedido de recuperação judicial — juntando-se a redes como a JC Penney, J. Crew e Neiman Marcus. 

A companhia já enfrentava desafios existenciais mesmo antes da pandemia — com o mundo corporativo cada vez mais adotando um dress code casual. 

Mas o crescimento do ‘home office’ — que fez os homens trocarem de vez os ternos por shorts e calças de moletom — foi a pá de cal para a companhia, que este ano completa 202 anos.

Com 500 lojas (200 delas nos Estados Unidos), a Brooks Brothers já fechou 50 desde o início da pandemia. Agora, está procurando um comprador. 

Segundo o The Wall Street Journal, a varejista quer usar a recuperação judicial para vender o negócio — e já teria pelo menos um interessado: a Authentic Brands, que é dona das marcas Barneys New York e Sports Illustrated. A Brooks Brothers também já teria assegurado um empréstimo de US$ 75 milhões com a WHP Global, uma holding de marcas de roupas investida pela Oaktree e Blackrock. 

A ideia de vender a empresa, hoje controlada pelo italiano Claudio Del Vecchio, não é nova. No ano passado, o banco de investimentos PJ Solomon já havia sido contratado para “explorar opções estratégicas.” 

Fundada em 1818, a Brooks Brothers foi a pioneira no mercado de ternos prontos. Seus ternos já vestiram presidentes — de Abraham Lincoln a Donald Trump, passando por Teddy Roosevelt — além de famílias como os Astor e os Vanderbilt. 

Foi a Brooks Brothers que popularizou peças como a camisa de botão, que ela introduziu nos EUA em 1896, as gravatas listradas (reverse-stripe rep tie’) em 1902, e as jaquetas de tweed.

“Ela era ‘o’ uniforme,” Robert Herbst, um advogado que ganhou sua primeira peça da marca aos 7 anos de seu pai, disse ao WSJ. “A Brooks Brothers sempre foi um estilo de vida. Ela representava uma maneira tradicional de se vestir.”

Agora, ao que tudo indica, a Brooks Brothers pode acabar se tornando um negócio de nicho. Mesmo com as pessoas começando a voltar aos escritórios, parece cada vez mais claro que o traje formal perdeu sua hegemonia. 

“Tenho visto uma tendência crescente para roupas mais casuais, em parte porque é assim que nossos clientes estão se vestindo,” Quyen Ta, o sócio de um escritório de advocacia de São Francisco, disse ao WSJ. “Eu me encontrei recentemente com conselheiros de empresas públicas que estavam vestindo moletom.”

Herbst corrobora: “Eu costumava usar ternos cinco dias por semana. Hoje em dia, é muito raro isso acontecer.”

A Brooks Brothers foi à lona seguindo o mesmo roteiro celebrizado por Ernest Hemingway: “Gradually, then suddenly.”

Há menos de dois anos, Del Vecchio dizia ao The New York Times que estava construindo uma empresa “que vai continuar existindo depois que eu morrer.”

“Estamos tentando construir uma cultura que dure mais que o próprio negócio. Que torne muito difícil para o próximo cara [no comando] estragar tudo.”

Primogênito do fundador da Luxottica, Leonardo Del Vecchio, Claudio Del Vecchio aprendeu sobre a Brooks Brothers por meio de Gianni Agnelli, o dono da Fiat, que começou a usar a marca nos anos 60 — a acabou copiado por boa parte dos empresários italianos. Um mundo glamouroso para o varejo de vestuário, que hoje é apenas um retrato na parede.