A Lojas Renner acaba de vender novas ações a R$ 39, levantando R$ 4 bilhões para financiar seu crescimento no pós-covid, incluindo uma potencial aquisição de grande porte que dominou as conversas com investidores.
Por volta das 20h o conselho da Renner decidiu não exercer o hot issue, que aumentaria a oferta em até 35,7 milhões de ações.
A chamada ‘oferta prioritária’ — as ordens de acionistas atuais que decidiram acompanhar o aumento de capital — ficou ao redor de 40% do total da oferta.
O preço é um desconto de 6,85% em relação ao preço de fechamento de 15 de abril, antes da oferta ser anunciada.
Quando a oferta foi anunciada em 16 de abril, o mercado inicialmente reagiu bem, apostando que um M&A traria ganhos de sinergia espetaculares e que a companhia estava sendo oportunística — apesar de fontes terem dito ao Brazil Journal que não havia um alvo definido. A ação subiu forte e chegou a bater R$ 47,45, empurrando todo o setor de varejo.
Mas no roadshow, começou a ficar claro que a Renner estava levantando capital antes de ter um alvo definido — e apesar de ter amplo espaço para alavancagem.
A maré virou, e a ação começou a cair.
“No início, o humor do investidor era: ‘se for C&A, acho porrada, e se for Dafiti será porrada,’” diz um gestor. “No final, o humor era, ‘não quero nem saber, estou perdendo nas duas pontas: eles vão pagar mais pelo deal e eu vou ser mais diluído.’” Sem o hot issue, a diluição dos atuais acionistas ficou em 12,8%.
Alguns gestores disseram que a companhia tinha credibilidade suficiente para adotar o playbook da Natura — achar um alvo, fazer a aquisição com um empréstimo-ponte e em seguida anunciar um follow-on — mas preferiu inverter a ordem dos fatores.
“Os bancos devem ter provocado a companhia dizendo que a Renner tinha confiança do mercado para pedir um cheque em branco, mas isso foi contraproducente: agora, com o dinheiro em caixa, a companhia inflacionou o mercado.”
A falta de uma mensagem específica da Renner — sobre o tipo de alvo e o timing de uma aquisição — também não ajudou o processo.
“Todo mundo perguntou sobre o prazo porque, se eles dissessem que seria rápido, é porque era algo grande. Se fosse lento, seriam compras pequenas.”
Gestores dizem que o CEO Fabio Faccio não oferecia respostas consistentes sobre prazo, mas nas reuniões mais recentes começou a falar em ‘18 meses’, o que pode significar qualquer coisa: um alvo grande ou dois médios. Nas reuniões iniciais, Fabio falava em várias aquisições pequenas que trariam novas ‘capabilities’ para dentro da empresa.
Em alguns encontros, Fabio chegou a descartar a C&A como alvo e pareceu mais aberto a uma Dafiti ou Amaro, mas investidores se dividiram. Uns concluíram que as respostas vagas eram uma forma de esconder o jogo; outros, uma forma sutil de dizer que a companhia não tem um coelho para tirar da cartola.
Os coordenadores foram Itaú BBA (líder), BTG Pactual, JP Morgan, Morgan Stanley e Santander.