A família Muffato, dona da rede de supermercados e atacarejo dominante no Paraná, montou uma posição de 10% no Assaí – aproveitando a ação descontada para se tornar acionistas de referência numa companhia de capital pulverizado que hoje vale R$ 13,5 bilhões na Bolsa.

Por enquanto, trata-se de um investimento apenas financeiro. Uma discussão sobre uma possível fusão entre as companhias teria um racional estratégico claro, mas não está na mesa neste momento.

Usando principalmente total return swaps, os Muffato fizeram o investimento por meio do fundo Snapper Rocks, criado em janeiro deste ano. (O fundo toma seu nome de uma praia australiana popular entre surfistas.) No final de outubro, o fundo detinha 4,7% do capital do Assaí. Agora, já detém 10%. 

Depois de negociar na mínima histórica em janeiro deste ano – pouco acima de R$ 5 – a ação do Assaí subiu 84% este ano, mas ainda negocia 50% abaixo de sua máxima histórica de R$ 21 em  janeiro de 2023.

Com o papel saindo a R$ 10 no fechamento de ontem, o Assaí negocia hoje a cerca de 4,7x EV/EBITDA 2026. 

A compra do papel pelos Muffato acontece num momento em que o Carrefour Brasil fechou seu capital e o Grupo Mateus enfrenta dificuldades próprias, com questionamentos a seu balanço. 

A aquisição da participação é o maior passo dado até agora pelos irmãos Everton e Ederson Muffato, filhos de dona Rosa. 

Disciplinados, com a barriga no balcão e filhos que também já trabalham no negócio, Everton e Ederson transformaram a companhia fundada por seu pai num gigante regional mutiformato, com supermercados atacarejo, proximidade e atacado de entrega – sempre operando com alavancagem zero.

José Carlos “Tito” Muffato abriu um pequeno armazém com seus irmãos em 1974 e fez o negócio crescer, mas morreu tragicamente num acidente aéreo no aeroporto de Cascavel em 1996, quando seus filhos ainda eram adolescentes.

Nos últimos 30 anos, os filhos mudaram a empresa de patamar, fazendo do Muffato o sexto maior grupo alimentar do País, com um faturamento de R$ 17,4 bilhões no ano passado. (Mais recentemente, num acordo familiar, o terceiro filho, Eduardo, saiu do negócio alimentar e ficou com ativos agrícolas e de mídia.)

Por controlarem uma companhia concorrente, os Muffato não podem fazer parte do board do Assaí, mas o caminho para o exercício do controle de fato é claro.

O estatuto do Assaí tem um poison pill que obriga acionistas que atingirem 25% do capital a fazer uma oferta pela companhia inteira, pagando um prêmio de 25% sobre a média do preço do papel.

O Assaí é uma corporation e tem entre os principais acionistas a Orbis Invest, com 11,57% das ações; além de Dynamo, Conifer Management e Wishbone, cada uma com 5% do capital. 

Ainda que a compra das ações não esteja sendo feita pelo Grupo Muffato, a movimentação faz sentido estratégico para os planos de expansão da rede.  

O Assaí tem 306 lojas e deve faturar R$ 86 bilhões este ano, e é a segunda maior player do varejo alimentar, atrás apenas do Carrefour (R$ 120 bilhões). 

O Muffato possui a maior parte das suas 116 lojas no Paraná e no interior de São Paulo. Desde 2023, o grupo vem se expandindo também pela capital paulista, depois da compra de 16 lojas do Makro, que vêm sendo convertidas para a bandeira Max Atacadista. No varejo, a rede atua com a marca Super Muffato.

O BTG Pactual está assessorando os Muffato.