O Magazine Luiza anunciou um aumento de capital privado de R$ 1,25 bilhão, com a família Trajano se comprometendo a colocar até R$ 1 bilhão na companhia, um voto de confiança poderoso em meio às tormentas que têm assolado o varejo.
O BTG Pactual deu garantia firme para os R$ 250 milhões restantes, e está financiando os Trajano numa operação com vencimento em dois anos e meio e garantia das ações da família – um equity swap semelhante às transações de Dasa e Aeris.
A família caracterizou a oferta como uma “oportunidade” num momento de ceticismo do mercado com o varejo e o início do ciclo de queda de juros, que historicamente beneficia a companhia. Cada 1% de queda na Selic aumenta o lucro antes do IR do Magalu em R$ 150 milhões.
O preço da ação foi fixado em R$ 1,95 – um desconto de 5% sobre o preço médio do papel no pregão de sexta-feira.
Na hipótese remota de nenhum minoritário acompanhar a oferta, a participação dos Trajano na companhia subirá de 56% para 58%.
A oferta vem num momento em que o mercado tem monitorado o fôlego dos grandes varejistas – acossados pela Selic de dois dígitos, a concorrência chinesa e a sanha arrecadatória do Governo Lula, que decidiu fazer o ajuste fiscal exclusivamente pelo lado da receita.
Luiza Helena Trajano disse ao Brazil Journal que o Magalu já tinha os recursos para honrar a dívida de curto prazo, mas notou que o aumento de capital vai fortalecer a estrutura de capital.
O Magalu terminou o terceiro tri – o último dado disponível – com R$ 8 bilhões em caixa. Como o quarto tri é o mais forte do varejo, o mercado estima que a companhia fechou o ano com um caixa de R$ 10 bi.
A companhia tem uma dívida total de R$ 7,4 bilhões, dos quais R$ 3 bilhões vencem este ano – R$ 850 milhões já foram quitados em janeiro, e o saldo vencerá em abril. Depois disso, o próximo grande vencimento da companhia só acontece no final de 2025.
Fred Trajano disse que a companhia vai usar os recursos para acelerar investimentos em tecnologia nas suas verticais de negócio – do marketplace à fintech, do Magalu Ads ao fulfillment e ao negócio de cloud. A empresa tem 2.000 desenvolvedores no Luiza Labs, e quer chegar a 3.000.
“Não precisamos fazer nenhum investimento físico, até porque hoje temos ociosidade de 40% em nossos CDs,” disse Fred, notando que, por não ser um follow-on, a transação não gera custos para a companhia.
Ainda assim, a entrada dos recursos vai derrubar ainda mais a relação despesa financeira/receita líquida, que Fred disse considerar a melhor métrica de alavancagem.
Hoje, o consenso de mercado é de que o Magalu reduzirá esta métrica de 5,5% (no final de 2023) para 4% no final deste ano, beneficiada em grande parte pela queda da Selic. Fred disse que o aumento de capital pode reduzir este número para 3,5%.
“Gosto sempre de trabalhar com uma despesa financeira igual a menos da metade da margem EBITDA,” disse o CEO. Analistas estimam que a margem EBITDA recorrente do Magalu esteja hoje entre 6% e 7%.
O aumento de capital com o suporte da família deve reduzir o ruído na ação do Magalu. As posições vendidas no papel equivalem a 13% do free float, o equivalente a quase 3 dias de negociação. A ação tem girado R$ 350 milhões/dia.
O Magalu vale R$ 14 bilhões na Bolsa.