Numa transação nada menos que histórica, a Petrobras concluiu sua saída da BR Distribuidora — numa oferta que levantou R$ 11,4 bilhões para o caixa da estatal e liberta a maior distribuidora de combustíveis do País de sua última amarra estatal numa época de transformações profundas para o setor de energia.

Em uma só tacada, a Petrobras vendeu 37,5% do capital da empresa, precificando a oferta agora à noite a R$ 26 por ação — um desconto irrisório em relação ao fechamento de hoje, de R$ 26,68.  Foi a maior oferta de ações no Brasil este ano até agora.

A demanda chegou a R$ 23 bilhões, cerca de duas vezes o lote disponível.

Mais de 100 investidores participaram da oferta, com pelo menos cinco gestores colocando ordens de R$ 1 bilhão ou mais: o Millennium, um fundo multimercado global, SPX Capital, Itaú Asset Management, Truxt e Dynamo.  

Fontes envolvidas na oferta reportam “inúmeras” ordens entre R$ 500 milhões e R$ 1 bilhão incluindo investidores como GIC, Opportunity, Key Square e JGP.

O processo de alocação — quantas ações vão para cada investidor — ainda estava em curso no momento da publicação.

A transação de hoje é o passo final de um processo que começou em 2019, quando o então CEO da Petrobras, Roberto Castello Branco, decidiu vender 30% do capital da BR, uma companhia que em diversos momentos foi vítima de esquemas de corrupção. 

Aquela oferta — a R$ 24,50 por ação — levantou R$ 9,6 bilhões, mas deixou a Petrobras ainda dona de 37,5% e com participação no conselho.  Agora, a renovação da base acionária e a chegada do CEO Wilson Ferreira devem dar à BR um novo rumo. A empresa fechou o dia valendo R$ 31 bilhões na B3.

Os coordenadores foram Morgan Stanley, Bank of America, Citi, Goldman Sachs, Itaú BBA, JP Morgan e XP.

A demanda pela BR deve ser bem recebida pela Raízen, cujo IPO de cerca de R$ 10 bilhões deve vir a mercado ainda este mês. Segundo bancos, a Cosan está testando um valuation de R$ 90 bi (post money) para a Raízen, o que seria equivalente a aplicar o mesmo múltiplo de BR sobre o negócio de combustíveis da empresa.

No preço da oferta de hoje, a BR saiu a 9x EV/EBITDA 2021, assumindo um EBITDA de R$ 4,1 bilhões.