O Hospital Albert Einstein acaba de criar um novo teste para a detecção da covid-19 — uma inovação 100% brasileira que deve aumentar a capacidade de testagem do sistema de saúde num momento crítico do combate ao vírus.
A equipe do Einstein, liderada pelo pesquisador João Renato Rebello Pinho, começou a desenvolver o novo teste há cerca de dois meses, logo que o primeiro caso de coronavírus chegou ao Brasil.
Mas a inovação só foi possível graças a um investimento antigo do hospital: a Varstation, uma startup de sequenciamento genético fundada em 2015 pelo bioinformata Murilo Cervato e incubada desde então na Eretz.bio, a incubadora de startups do hospital.
A Varstation criou uma inteligência artificial capaz de analisar o sequenciamento genético dos pacientes, diagnosticar doenças ou mutações genéticas, e depois definir o melhor tratamento para cada pessoa (com base em seu DNA) — uma técnica conhecida como Sequenciamento de Nova Geração (NGS, na sigla em inglês).
Quando o coronavírus começou a se alastrar no Brasil, os pesquisadores do Einstein começaram a tentar adaptar esse método para detectar também o RNA — a outra molécula biológica que, junto com o DNA, compõe o material genético de todos os seres vivos. (O coronavírus, assim como a maioria dos vírus, possui apenas RNA).
“Conseguimos separar a base do RNA em pequenos fragmentos para que ele fosse lido como se fosse o DNA,” Sidney Klajner, o CEO do Einstein, disse ao Brazil Journal. “É uma tecnologia que vai usar equipamentos que já existem, ampliando a capacidade de testagem sem aumentar os investimentos.”
A sensibilidade do teste — inédito no mundo — é de 90%, equivalente à do PCR, hoje o padrão na identificação do coronavírus.
A grande diferença: o novo teste do Einstein é muito mais escalável. A plataforma da Varstation permite analisar 1536 amostras em cada processamento, 16 vezes mais que o teste de PCR.
Para se ter uma ideia: o hospital processa hoje 2 mil testes de PCR por dia, mas para isso teve que fazer um alto investimento para a compra de novos equipamentos. Apenas com a capacidade atual da Varstation, ele já teria condições de processar 24 mil testes de sequenciamento genético por semana (3,4 mil por dia).
“Essa tecnologia também é facilmente transferível para laboratórios que já fazem sequenciamento genético — como Fleury e Dasa — e que estão com capacidade ociosa nesse momento de crise,” diz o CEO do Einstein.
Além da maior produtividade, o Einstein conseguiu desenvolver uma nova técnica de processamento do NGS que torna seu custo consideravelmente menor do que o do PCR — algo até então impensável por especialistas.
“O NGS em geral tem um custo maior, porque é um exame mais sofisticado. Mas esse teste que desenvolvemos para o covid-19 tem alguns detalhes técnicos diferenciados que tornam seu custo mais barato quando feito em escala,” diz Cristovão Mangueira, o diretor médico do departamento de patologia clínica do Einstein. “São detalhes técnicos que não podemos revelar porque fazem parte da nossa patente.”
O resultado do novo teste do Einstein fica pronto em até três dias (o mesmo prazo do PCR), mas Klajner diz que o hospital está trabalhando para reduzir significativamente este prazo.
O novo teste vem num momento em que diversos insumos e reagentes para a realização do teste de PCR já começam a faltar no País, inviabilizando a testagem em massa.
Os testes padrões de NGS usam os mesmos insumos que os de PCR em uma de suas etapas: a extração do material genético. Mas o Einstein também desenvolveu uma técnica nova de extração, que utiliza outros insumos, que estão disponíveis no mercado.