A Cemig acaba de lançar sua oferta para desinvestir completamente da Light, que por sua vez está aproveitando o ensejo para levantar capital e fortalecer seu balanço no mundo volátil do pós-covid.

Numa oferta avaliada em R$ 3,2 bilhões no fechamento de ontem, a estatal mineira está vendendo suas 68,6 milhões de ações da Light, o equivalente a 22,5% do capital da distribuidora carioca.  Junto a esta oferta, a Light está fazendo uma captação primária, vendendo 68,5 milhões de novas ações.

A transação é um divisor de águas para a Light, uma companhia que alternou controle estatal com controle privado em seus 115 anos de história, mas que pela primeira vez será uma corporation, com capital pulverizado na Bolsa.

A Light entra nessa nova fase com dois acionistas de referência: Ronaldo Cezar Coelho, com 20% do capital, e Carlos Alberto Sicupira, com 10%. Ambos montaram a posição ao longo do ano passado.  (Ronaldo pagou R$ 23,85 pelo papel em janeiro de 2020, quando comprou um bloco do BNDES, e dobrou a aposta depois que a ação mergulhou para R$ 7 no final de março, no momento mais sombrio da primeira onda da pandemia.)

A Atmos Capital é o terceiro maior acionista, com mais de 5% do capital da Light. 

A oferta de hoje  num dos setores mais tépidos da Bolsa em 2020  vem no momento em que a Light embarca num turnaround liderado por um nova administração que veio em boa parte da Equatorial, incluindo o chairman Firmino Sampaio, o CEO Raimundo Nonato de Castro, a diretora de RH e alguns superintendentes. O novo diretor de operações, Thiago Guth  que ocupou o mesmo cargo na CPFL Energia nos últimos cinco anos  assumiu o cargo esta semana.

O desafio hercúleo da Light: reduzir perdas operacionais e inadimplência no xadrez geográfico e social do Rio de Janeiro.  A ação negocia a 1x sua RAB (base de ativos regulatórios), enquanto a maioria dos concorrentes negocia acima de 2x.  A Light vale R$ 7,1 bilhões na Bolsa; o papel fechou ontem a R$ 23,48.

Apesar da assembleia de acionistas da Light ter aprovado uma emissão de até 85 milhões de ações, a companhia reduziu a oferta em quase 20% depois de um rali recente que valorizou o papel.  Ajudou também o fato da Light receber, no final do ano, uma receita inesperada de R$ 500 milhões como resultado de contencioso com Furnas que começou em 1986.

Os coordenadores são Itaú BBA (líder), BTG Pactual, Santander, XP e Citigroup.

O pricing está marcado para 18 de janeiro.