Depois de um 2018 de copo vazio, a Ambev finalmente voltou a ganhar share no primeiro trimestre deste ano, com um crescimento de dois dígitos no volume de cerveja no Brasil, seu principal mercado. 

Entre janeiro e março, o volume cresceu 11,4% frente ao mesmo período do ano passado, enquanto a indústria avançou um dígito baixo, segundo dados da Nielsen. 

Com as temperaturas elevadas e um Carnaval mais tardio, o mercado já esperava alguma recuperação, mas o número veio acima da expectativa. O consenso de mercado apontava para um crescimento de 8% no indicador. 

“A tese da companhia era toda sobre recuperação de volume e a empresa entregou”, diz um gestor comprado no papel.

O avanço da Ambev mostra que o segmento ‘value’ do mercado de cervejas — formado por marcas ainda mais baratas que Brahma e Skol, e que havia ganho participação durante a crise — perdeu momentum, voltando a dar espaço às marcas ‘mainstream’ da cervejaria. 

A companhia já vinha sinalizando uma melhora nas vendas desde novembro, já que a confiança do consumidor subiu após as eleições. Agora, o avanço do volume pode impactar positivamente a ação: como o papel vinha frustrando as expectativas, muitos investidores estavam esperando ver para crer. 

Os resultados da Heineken, divulgados no fim de abril, também tinham deixado alguns investidores com o pé atrás. O volume da companhia — a principal competidora da empresa do grupo 3G — cresceu dois dígitos no País, impulsionada tanto pela Heineken, mais premium, quanto por Amstel e Devassa, que operam no mesmo nicho mainstream da Ambev. 

Para os otimistas, o crescimento concomitante das marcas reforça a tese de que o segmento value está perdendo espaço. Já os mais céticos apontam que possa haver um efeito de ‘sell-in’ (venda para os bares e demais canais de distribuição que ainda não chegou aos consumidores), o que poderia se traduzir numa ressaca nos próximos trimestres. 

Nos últimos meses, a Ambev vem investindo numa forte segmentação de portfólio no seu segmento ‘core’ — formado por marcas como Skol, Brahma e Antarctica —, que ajudou no resultado. 

Segundo a companhia, Brahma continua crescendo ‘trimestre após trimestre’ e a Skol — onde residem as maiores preocupações dos investidores quanto ao posicionamento de marca — também cresceu no período. O lançamento da ‘Skol Puro Malte’ teve “incrível sucesso”. 

A fragilidade do mercado ainda aparece nos preços: a receita por hectolitro aumentou 3,9%, abaixo da inflação, apesar do crescimento do segmento premium, que tem preço mais elevado — indicando um posicionamento mais agressivo nas marcas mainstream. 

“É muito mais saudável crescer bem com menos preço do que aumentar preço e crescer pouco como eles estavam fazendo no começo do ano passado”, pondera um gestor fora do papel. 

O resultado também foi melhor na divisão de refrigerantes no Brasil, que vinha derretendo nos últimos trimestres. A receita aumentou 25% na comparação anual, resultado de um aumento de 16,3% de volume e 7,6% de receita por hectolitro. 

Segundo a companhia também houve aumento de share: dados da Nielsen também apontam um crescimento de ‘um dígito baixo’ do segmento no Brasil como um todo Brasil. 

O mercado esperava uma recuperação nos volumes de cerveja da Ambev já no quarto trimestre, mas os resultados decepcionaram, levando a uma forte correção do papel no fim de fevereiro. De lá para cá, as ações já subiram 10%, mas ainda negociam a um valor 20% inferior ao do mesmo período do ano passado. 

Junto com os resultados, a companhia também anunciou uma mudança na estratégia de tecnologia para aumentar sua assertividade comercial.

A Ambev comprou seu principal fornecedor de TI, colocando 400 programadores para dentro da empresa, contribuindo para a formação de um pedido de venda ‘ideal’ para cada ponto de venda, com base em algoritmos alimentados pelo portal, televendas e aparelho móvel de cada vendedor. 

“Esse processo permitiu a execução de nossa estratégia de portfólio, entregou ganhos, e aumentou o volume, além de liberar tempo para que nossa força de vendas possa focar na execução no ponto de venda e no atendimento ao cliente, ao invés de somente retirar pedidos”, destacou a companhia no relatório de desempenho que acompanha os resultados.

 

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