Depois da decisão da Suzano de ir para o Novo Mercado, outra empresa que poderia seguir o mesmo caminho e se beneficiar com a migração é a Guararapes, a dona das lojas Riachuelo.
Só falta combinar com o seu Nevaldo, o fundador da empresa.
A Guararapes voltou a cair nas graças dos investidores: suas ações ordinárias já acumulam alta de quase 90% este ano, recentemente cotadas a R$ 116, próximas do pico histórico nominal de R$ 122,50 atingido no fim de 2012.
No último ano, a empresa fez uma arrumação completa na casa. A Midway – o braço financeiro – passou a ser mais conservadora na concessão de crédito e conseguiu reduzir a inadimplência. Ao mesmo tempo, a logística de abastecimento das lojas da Riachuelo foi reformulada: as vendas e as margens aumentaram.
“A Guararapes tinha uma dinâmica meio perversa: ela aumentava o crédito, as vendas subiam, mas depois isso se traduzia em inadimplência. Agora, dá para dizer que a empresa está funcionando sem anabolizantes”, diz um gestor comprado no papel.
Mas, com a capital concentrado nas mãos da família fundadora, a baixa liquidez ainda afasta os investidores de maior porte. As ações ON têm negociado uma média de R$ 1,9 milhão por dia e as PN, R$ 870 mil.
Em contraste, a Renner — a maior empresa de moda da bolsa — movimenta cerca de R$ 73 milhões por dia.
A diferença explica parte do prêmio da concorrente: enquanto a Guararapes é negociada a 21 vezes seu lucro para os próximos doze meses, a rival gaúcha negocia a cerca de 29x.
Do ponto de vista da estrutura acionária, não há barreiras para uma conversão de ações.
Assim como os Feffer da Suzano, a família Rocha controla a Guararapes com folga: tem mais ações preferenciais que ordinárias, de forma que, mesmo com uma conversão sem prêmio, na proporção de um para um, ainda manteria de longe a posição de majoritária.
Nevaldo Rocha e seus três filhos – Flávio, Élvio e Lisiane – têm juntos 75,8% das ações ON e 89,7% das PN. No caso de uma conversão, mesmo sem prêmio, ainda manteriam 82,7% da empresa.
O grande empecilho é mesmo o fundador. O comerciante sem estudos que transformou uma pequena loja em Natal num colosso que fatura R$ 7 bilhões tem uma relação muito afetiva com o negócio e, aos 88 anos, não parece querer abrir mão de uma ação sequer.
Para ser aceita no Novo Mercado, a Guararapes precisaria fazer uma oferta de ações. A regra da Bolsa exige que pelo menos 25% das ações estejam nas mãos de acionistas não-controladores, e, no caso da Guararapes, esse percentual é de apenas 18%.
Apesar de, na prática, a empresa ser tocada por seu filho, Flávio Rocha, Nevaldo ainda é diretor-presidente e presidente do conselho da Guararapes. Flávio, a cara da companhia, é o presidente das Lojas Riachuelo, que fica abaixo da holding.
“O Flávio [CEO] tem uma postura muito pró-mercado,” diz um gestor. “Mas, enquanto seu Nevaldo estiver vivo, acho muito difícil alguma coisa acontecer.”
Uma migração para o Novo Mercado significaria também um salto de governança. Hoje, a empresa tem apenas três conselheiros, todos da família: Nevaldo, Flávio e Lisiane.
Uma nova governança também poderia eliminar algumas idiossincrasias do fundador. A menina dos olhos do seu Nevaldo é o shopping Midway, em Natal, mas até os caranguejos da Praia de Ponta Negra sabem que o shopping vale muito mais fora da Guararapes do que dentro do balanço da empresa.
Mas quem manda é o seu Nevaldo.