A Brasil Insurance vai pedir à Justiça a anulação da aprovação das contas da administração anterior e pretende processar dois ex-diretores por supostos atos lesivos ao interesse da companhia.

A holding de corretoras de seguro — cuja ação virou pó no útimo ano — acusa o ex-CFO da empresa, Miguel Longo Júnior, e o ex-diretor de operações, Cesar Augusto Cezar, de terem agido contra os interesses da companhia ao celebrar acordos que, entre outras coisas, podem impedir a Brasil Insurance de receber uma dívida de 30 milhões de reais.

O beneficiário destes acordos seria Roberto Ali Abdalla, um corretor de seguros que se tornou acionista da Brasil Insurance ao vender sua corretora, a 4K, para a companhia.

A nova administração da Brasil Insurance, que assumiu em maio, afirma ter descoberto os acordos envolvendo Abdalla no curso de uma investigação interna que ainda não acabou. De acordo com uma fonte, a investigação vai se estender até o IPO da empresa, no final de 2010.

“A existência ou conteúdo [destes] contratos não havia sido divulgada a qualquer membro da atual Administração, tampouco aos acionistas, quando da aprovação das contas dos ex-diretores”, diz a empresa.

Em 2011, poucos meses depois do IPO da Brasil Insurance, a 4K (que Abdalla vendera à Brasil Insurance) perdeu seu maior cliente. Isto disparou um dispositivo no contrato de venda que forçava Abdalla a compensar a Brasil Insurance em caso de perda de receita na 4K. A partir daí, Abdalla passou a dever 25 milhões de reais à Brasil Insurance.

Em 14 de maio de 2014, Adballa confessou esta dívida, que aparece nas notas explicativas do balanço da Brasil Insurance.

No entanto, pouco mais de um mês depois, os ex-diretores da empresa fizeram “contratos e operações que resultaram na transferência de recursos da 4K (ou seja, da Brasil Insurance) em favor de Abdalla”, afirma a BR Insurance em texto que está publicando hoje no qual embasa o pedido de anulação da aprovação das contas dos ex-diretores.

Primeiro, os ex-diretores liberaram Abdalla das obrigações de dedicação exclusiva e não-competição às quais ele estava sujeito como qualquer corretor que vendeu seu negócio para a Brasil Insurance e se tornou acionista da empresa. A liberação se deu sem qualquer contrapartida, afirma a Brasil Insurance.

O acordo — celebrado por Longo e Cezar — também liberou Abdalla para administrar uma corretora não pertencente ao grupo da Brasil Insurance, a Vegas Aliança Corretora de Seguros Ltda., que tem como sócios familiares de Abdalla.

As vantagens a Abdalla, segundo a Brasil Insurance, não pararam por aí. Os ex-diretores determinaram que a 4K celebrasse um acordo de ‘co-corretagem’ com a Vegas.

A partir dali, a Vegas passou a fazer jus a metade das receitas de corretagem auferidas em novos negócios gerados por Abdalla, que continuou usando toda a estrutura e os recursos financeiros e humanos da 4K, que eram integralmente custeados pela Brasil Insurance.

“O instrumento de co-corretagem fora também utilizado para transferir para a Vegas comissões de corretagem a que a 4K já fazia jus, acarretando, na prática, uma diminuição de 50% das receitas atuais e futuras da 4K, que reverteriam em favor de sua controladora Brasil Insurance. Comissões de corretagem que eram pagas pela seguradora Zurich, única fonte de receita relevante da 4K, foram, assim, transferidas para a Vegas, sem contrapartida,” diz o texto que a Brasil Insurance está submetendo a seus acionistas.

Finalmente, o acordo previa o imediato perdão da dívida de Abdalla se houvesse modificação da estrutura que destinava para a Vegas 50% das receitas da 4K.

Investidores e analistas dizem que a principal falha do modelo de negócios da Brasil Insurance foi sua incapacidade de manter os corretores-acionistas alinhados com o interesse da empresa ao longo do tempo. Quando vendia sua corretora para a Brasil Insurance, o dono da corretora recebia ações da empresa e um ‘earnout’ — uma soma em dinheiro caso sua corretora cumprisse metas ao longo dos anos. Com o tempo, depois de receber o ‘earnout’, muitos corretores passavam a achar que não estavam sendo remunerados adequadamente, deixavam a empresa, e frequentemente montavam outra corretora em nome de familiares — esvaziando a Brasil Insurance e condenando a empresa.

Longo — ex-CFO do Wal-Mart no Brasil, ex-CFO do UOL e um nome respeitado no mercado — juntou-se à Brasil Insurance

numa fase já avançada do derretimento da empresa

, em que o desalinhamento dos corretores já era corriqueiro. A coluna não conseguiu contato nem com Longo nem com Cezar ontem à noite.

Empresas do ramo de corretagem de seguros como Aon, Marsh e Qualicorp

estudaram fazer uma oferta pela Brasil Insurance quando a ação negociava a cerca de 11 reais

, mas decidiram não seguir adiante, já apostando que o pior ainda estava por vir. Ontem, a ação fechou a 86 centavos.

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Atualização:  A respeito das operações envolvendo a 4K, César Augusto Cezar disse o seguinte: “Agi totalmente às claras, de maneira responsável e no melhor interesse da companhia. Tudo foi feito dentro da legalidade. Estávamos assessorados por advogados tanto internos quanto externos.”