Investidores europeus que gerem fundos dedicados à América Latina e mercados emergentes estão mantendo uma visão construtiva sobre o Brasil – apesar de toda a volatilidade política do ano eleitoral e da incerteza macro global. 

Esta foi a tônica da Bradesco BBI London Conference, a conferência anual que o banco acaba de realizar.

“O aperto monetário no Brasil já foi executado, e tem uma melhora na expectativa de crescimento e do fiscal,” disse Alex Pallin, o head de equity sales Europa do banco. “Além disso, em comparação a outros mercados emergentes, como a Rússia e China, o Brasil ficou atrativo.” 

A maioria dos clientes europeus do BBI estão overweight no Brasil desde o início do ano – ainda que com baixa convicção.

“Se você tirar Vale e Petrobras do índice, por exemplo, o Brasil continua barato, mas não é um ‘buy’ tão óbvio assim,” disse ele.

Apesar das duas empresas terem ‘outperformado’ o mercado nos últimos meses, elas tiveram uma estagnação de múltiplo, já que seus lucros também subiram – tornando-as duas das empresas mais baratas do Ibovespa. 

Incluindo Vale e Petrobras, o MSCI Brazil negocia hoje a um múltiplo de 6,2x o lucro para os próximos doze meses; excluindo os setores de energia e commodities, o múltiplo sobe para 9,9x.

Rui Marques, o head de global markets do BBI, acredita que boa parte dessa realocação para o Brasil na carteira de investidores europeus teve a ver com a piora de outros mercados emergentes, o que tornou o País mais atraente no relativo. 

Mas a análise bottom up também pesou a favor.

“As empresas brasileiras listadas estão muito eficientes: estão com uma alavancagem operacional grande e com um earnings momentum sólido e um balanço mais limpo,” disse Rui. 

A conferência também deixou claro que o risco eleitoral – que assombra onze em cada dez investidores locais – é visto como secundário pelos investidores europeus. “Eles estão indiferentes a candidatos porque não acham que no curto/médio prazo isso vai fazer preço,” disse Rui. 

Cerca de 70% dos gestores da conferência administravam portfólios de ações, mas algumas casas de renda fixa – do Reino Unido, França e Suíça – também participaram.

Para os investidores de crédito com mandato em moeda local, o Brasil está uma barganha, acredita Guilherme Zraick, o head de emerging markets credit sales do Bradesco BBI.

“O BC brasileiro está ‘ahead of the curve’, no fim do ciclo, e com taxas de juros reais bem atrativas,” disse ele. “Mas para os fundos com mandatos de hard currency, que é a maior parte, o Brasil está num nível ‘fair’,” com o CDS do Brasil, que mede o risco-País, ao redor de 280 pontos.

O problema é que os resgates na indústria não param, e o investidor não vai às compras pois precisa manter um nível de caixa mais alto que o normal para honrar os resgates.

Os principais benchmarks para os fundos de renda fixa estão com quedas expressivas. 

O EMBI, que segue as emissões soberanas, cai 19% desde o início do ano – machucando toda a indústria.  (Os fundos no melhor quartil de desempenho caem em torno de 8% a 10%. year to date.) 

Já o CEMBI, que acompanha as emissões corporativas, cai um pouco menos – 15% – em boa parte porque o duration dos títulos é menor. 

“O cliente de renda fixa não tá nem aí para a eleição. Ele está preocupado com o próximo movimento do Fed,” disse Guilherme. “O investidor quer saber quando será o pico da inflação, e consequentemente, qual será a reação do Fed e o que vai acontecer com os Treasuries. O efeito que teria uma mudança de guidance do Fed é muito mais importante para os níveis de taxa e spread dos bonds brasileiros do que o resultado eleitoral no Brasil.”

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