Consolidar-se como uma gestora de patrimônio efetivamente global e sem se render às amarras de qualquer instituição financeira são o norte de expansão da Brainvest. A casa, que nasceu em 2003 em Genebra, na Suíça, hoje tem escritórios em Zurique, São Paulo, Rio e Miami. Há cerca de dois anos, passou a atuar no México ao trazer ex-executivos do UBS que cobriam o mercado. O plano, agora, é fortalecer a presença na América Latina, tornando-se referência regional no segmento de multi-family offices.

Com cerca de R$ 10 bilhões sob seu guarda-chuva, sendo 70% em gestão de ativos offshore, a forma para continuar crescendo tem diversas vias — mas todas passam pelo capital humano, seja com a atração de profissionais que são referência em seus respectivos mercados, seja contratando times inteiros ou ainda fazendo aquisições de operações menores e complementares.

Segundo Fernando Gelman, sócio e CEO da Brainvest no Brasil, a gestora já tem uma equipe de peso nas três regiões onde atua. “O importante é ter uma presença global, mas com o olhar local e, para isso é preciso ter time local”, diz. Entre Genebra e Zurique são 21 pessoas, o Brasil passou dessa marca há muito tempo, enquanto o escritório de Miami é o que tem o maior potencial.

É a partir da base nos Estados Unidos que a Brainvest quer crescer na América Latina. “A plataforma de Miami abraça toda a parte de ‘Latam’, tem o mercado do Peru, Colômbia, México onde a gente já entrou. Há outros lugares com bom potencial de oferta de serviços com a nossa visão global de investimentos”, diz Gelman.

Em meados de 2019, a Brainvest atraiu um time de Genebra do UBS que fazia gestão para clientes mexicanos. Em pouco mais de um ano, 20% das receitas da gestora já vêm dessa atuação. Reflexo dos bons resultados trazidos para as carteiras dos clientes.

Em meio a movimentos de consolidação no setor de gestão de fortunas, a casa tem conseguido manter sua veia independente. O fato de ser uma verdadeira ‘partnership’, sem que nenhum sócio tenha posição dominante, ajuda a manter o foco no cliente e no negócio.

Segundo o sócio Alexander Gorra, que se juntou ao time no Brasil há cerca de um ano, uma das frentes em que a Brainvest busca avançar em capital humano é no segmento de inovação. “A casa se propõe a fazer uma gestão holística, tem focado em sócios de empresas de tecnologia e sócios de financial enablers (sócios de VC, PE e assets)”, diz. “Além do cliente tradicional, a ideia é cobrir o mundo da tecnologia, que tem ganhado muita tração.”

Isso significa cuidar não só do patrimônio do investidor da nova economia, mas também da arquitetura de seus negócios. “Os empreendedores andam a 10 mil por hora e, às vezes, não têm tempo para cuidar bem das suas estruturas, da situação sucessória. Temos focado em atendê-los e ajudar na liquidez e iliquidez”, acrescenta Gorra.

Ele cita que alguns investidores têm grandes participações em empresas não-listadas, às vezes na pessoa física, enquanto uma operação “offshore” poderia proporcionar uma melhor eficiência tributária. A Brainvest tem uma “trust company” (entidade legal que atua como agente fiduciário) própria baseada em Zurique, que ajuda a organizar os ativos ilíquidos e questões societárias dos clientes.

O universo dos alternativos e as estruturas mais adequadas em cada um deles é algo que a Brainvest conhece de perto. Acostumada a navegar em mercados que já rodavam com juros próximos de zero ou negativos, antes de isso ser uma realidade no Brasil, essa é uma expertise em que a casa desenvolveu desde a origem. Já são mais de US$ 600 milhões investidos. “A proposta de valor é o alinhamento dos sócios que co-investem nos ‘deals’ alternativos na física, o engajamento inclui ter clientes no board”, cita Gorra.

Assim como na distribuição de outros fundos, não há gestão própria em venture capital, diz Gelman. O que a Brainvest fez foi trazer um nome com muita experiência nessa área: Oren Pinsky, um veterano do mundo de Venture Capital com mais de 20 anos dedicados à indústria de investimentos em tecnologia e inovação como empreendedor, investidor (com um dos primeiros unicornios brasileiros – Amyris, que fez IPO em 2011), consultor (McKinsey) e executivo (Qualcomm e Philips), e que estava baseado em Genebra tocando iniciativas globais de inclusão digital para o World Economic Forum.

O veículo desenhado para a estratégia de Venture Capital global é um fundo-de-fundos.

“Foi a maneira do investidor diversificar inteligentemente sua exposição a Venture Capital sem precisar apostar numa região específica, ou num estágio [como ‘seed’, ‘early stage’ ou ‘growth’]. O acesso não é fácil para o cliente brasileiro, até mesmo para o do family office, que precisaria montar uma estrutura propria dedicada a garimpar os melhores gestores do mundo, além de ter volumes de investimentos mínimos que em muitos casos tornam os investimentos inviáveis”, afirma Gorra.

Como esse é um casamento de longuíssimo prazo, o executivo acrescenta que a qualidade da escolha do gestor é muito mais importante do que na classe dos líquidos, em que há maior flexibilidade para entrar e sair. “Do melhor para o pior quartil [de performance], a diferença de retorno pode chegar a 20-30% anualizada. Num ‘compound’ [retorno composto] de dez anos é muita coisa e o investidor não consegue sair.”

Desde o início, a Brainvest garimpa investimentos ligados à economia real. Ao longo do tempo construiu uma rede de relacionamentos que permite o acesso a opções variadas, desde estruturas mais tradicionais de participação em empresas (private equity e venture capital), passando por ativos que proporcionam renda ligados a residências multifamiliares, hospitalidade ou até em royalties musicais. As operações de crédito estruturado incluíram financiar turbinas de aviões e locomotivas.

São alternativas ligadas à economia real, em que a casa busca retornos potenciais de 15% a 25% e que nada têm a ver com os riscos de mercado, crédito ou liquidez no Brasil. Na jornada de preservação de patrimônio e construção de um legado familiar, estar perto de um especialista comprometido e com interesses alinhados faz toda a diferença para navegar em mares por vezes revoltos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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