Depois de reduzir os riscos da empresa e vender ativos que tiravam o foco dos seus negócios principais, a Vale quer agora ser um agente que permite a descarbonização da siderurgia e a transição energética. A mineradora está fazendo dois movimentos importantes.

Em uma frente, vai elevar o teor médio de ferro do seu minério, produzir briquetes que permitem menor emissão de CO2 na fabricação de aço e desenvolver os Mega Hubs, complexos industriais para produtos siderúrgicos de baixa emissão. Com isso, aliado ao uso do hidrogênio verde, a indústria siderúrgica será capaz de produzir o aço verde.

Na outra linha de negócios, a empresa vai elevar a capacidade de produção de cobre e níquel, dois minérios fundamentais para a transição energética, como na indústria de carros elétricos.

“Desde que eu assumi a presidência da Vale (em 2019) temos sido extremamente disciplinados em executar o que prometemos. A Vale hoje é uma empresa mais segura do que em 2019. Vendemos dez negócios e trouxemos a empresa para o tamanho que ela deve ter. Temos dois negócios singulares, minério de ferro e metais básicos, e agora estamos prontos para o sucesso,” disse o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, durante o Vale Day.

O caminho que a Vale está trilhando não só ajuda o mundo a reduzir sua pegada de carbono, mas também significa mais fluxo de caixa para a empresa e geração de valor.

Durante o Vale Day realizado ontem em Londres, o vice-presidente executivo de finanças e relações com investidores, Gustavo Pimenta, mostrou que os dez novos projetos da empresa que entram em operação entre 2024 e 2026 vão gerar um EBTIDA adicional para a companhia de US$ 4 bilhões.

A projeção é que em 2024, a Vale produza entre 310 e 320 milhões de toneladas de minério de ferro, já prevendo que chegará em 2026 com uma produção entre 340 e 360 milhões de toneladas, considerando a entrada em operação dos projetos Vargem Grande e Capanema, em Minas Gerais, e a ampliação do S11D, no Pará.

Uma das estratégias da companhia é buscar soluções focadas no cliente e, por isso, está firmando parcerias para a construção de complexos industriais, que chama de Mega Hubs, para a fabricação do minério com maior valor agregado e menores emissões. “Estamos melhorando a qualidade do nosso portfólio. Temos compromisso de apresentar mais valor aos nossos negócios”, disse no evento o vice-presidente executivo de soluções de minério de ferro, Marcello Spinelli.

Nos Mega Hubs, a Vale vai produzir briquetes de minério de ferro, produto inovador desenvolvido pela empresa, que servirão de insumo para os parceiros fabricarem o HBI (hot-briquetted iron ou ferro-esponja), um produto metálico para a fabricação de aço. No início, a produção de HBI será feita com gás natural como fonte de energia, mas quando o hidrogênio verde estiver disponível será possível utilizá-lo na produção de aço com zero emissão. 

Nos próximos três anos, o teor médio do ferro da Vale vai sair de 62,5% para 63,5%. Isso significa também a expectativa de um prêmio maior, entre 8 e 12 dólares por tonelada. Para 2030, a meta é chegar a um teor de 64%. “A descarbonização está criando uma segmentação no mercado de minério de ferro, com uma maior demanda por alta qualidade,” disse Spinelli.

Além disso, ao melhorar a qualidade do minério de ferro, a expectativa é de que a empresa continue não só sendo uma grande fornecedora para a China, mas também amplie suas vendas para outras regiões, aproveitando a necessidade de descarbonização da siderurgia, que é um movimento global.

Já no negócio de metais para a transição energética, a Vale estima que vai produzir em 2024 entre 160 mil e 175 mil toneladas de níquel. Para o cobre, a mineradora estima produção entre 320 mil e 355 mil toneladas.

Recentemente, a empresa criou a Vale Base Metals, uma empresa focada nos metais de transição energética. A estimativa é que na próxima década cerca de 50 bilhões de reais sejam investidos no país e a nova companhia já firmou acordos estratégicos de fornecimento com Tesla, Northvolt e General Motors.

“Para dar foco, segmentamos esse negócio, trouxemos parceiros. Conseguimos aportar US$ 3,4 bilhões para crescer. A nossa intenção é triplicar a produção de cobre e dobrar a produção de níquel,” disse o presidente da empresa.

Toda essa transformação pela qual a Vale está passando começou depois da tragédia de Brumadinho. Eduardo Bartolomeo assumiu como presidente com a missão de tornar a Vale uma das empresas mais seguras do mundo. Todas as barragens da companhia contam hoje com monitoramento 24 horas e até 2025 nenhuma barragem estará em nível 3, o mais alto da classificação de emergência.

Esta é uma meta importante também para ganhar acesso ao capital de mais investidores, especialmente daqueles que ainda deixam Vale de fora do seu portfólio por conta da percepção de risco associada às barragens. 

Para reduzir a dependência de barragens, a empresa está investindo em processamento a seco, sem necessidade de água; construiu quatro plantas de filtragem em Minas Gerais; e criou a Agera, que comercializa areia como forma de reaproveitamento dos rejeitos de mineração.

A empresa também vai concluir nos próximos anos os pagamentos das indenizações pelas tragédias de Mariana e Brumadinho. Em Mariana, já foram desembolsados R$ 34 bilhões em 42 programas de compensações. Mais de 430 mil pessoas foram indenizadas. Em Brumadinho, mais de 14 mil pessoas foram indenizadas, em um valor total de 3,4 bilhões de reais. E cerca de 64% do Acordo de Reparação Integral já foi concluído.

Outra importante estratégia adotada pela atual administração da empresa foi batizada de reshaping. Basicamente, a decisão tomada foi a de vender 10 negócios, como plantas de carvão em Moçambique, participação na produtora de bauxita MRN e as siderúrgicas California Steel Industries (CSI), nos Estados Unidos, e Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP), no Ceará. Com a concretização destas vendas, a Vale eliminou despesas de até US$ 2 bilhões por ano.

Para os próximos anos, a empresa deve investir entre US$ 6 bilhões e US$ 6,5 bilhões por ano. A companhia também é uma das maiores pagadoras de dividendos aos acionistas entre seus pares na indústria. Foram 29 bilhões de dólares desde 2020.

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