O Bradesco finalmente conseguiu deixar para trás a pior fase do ciclo de crédito.

O terceiro trimestre reportado agora à noite mostra que, para conter o avanço da inadimplência num annus horribilis para o mercado de crédito, o banco segurou os empréstimos e centrou as concessões em linhas de risco mais baixo.

Mas o custo desta estratégia foi alto: a margem com clientes caiu 9,6% em relação ao terceiro tri de 2022 e 4,9% frente ao segundo tri deste ano.

“O Bradesco entrou no modo risk-off para consertar os erros do passado e colocou a receita em risco,” disse um analista.

A carteira de crédito total cresceu 1% sobre o segundo tri, mas caiu 0,1% na comparação anual.

O lucro líquido ficou em R$ 4,621 bilhões – um pouco abaixo do consenso de mercado da Refinitiv, de R$ 4,683.

Foi um resultado 2,3% maior que o do segundo tri, mas 11,5% inferior ao do terceiro trimestre de 2022.

O ROE aumentou de 11,1% no segundo tri para 11,3% agora – ainda extremamente baixo para os padrões históricos do banco.

Do lado positivo, a inadimplência acima de 90 dias total caiu para 5,6% (estava em 5,7% no segundo tri). O indicador de curto prazo melhorou mais, de 4,4% para 4,1%.

Além disso, a ‘NPL creation’ (o surgimento de novos empréstimos com problemas) caiu para R$ 9,987 bilhões, um patamar semelhante ao de um ano atrás.

As despesas com PDD caíram 10,9% em relação ao segundo tri, embora tenham aumentado 26,4% na comparação anual.

“O banco vinha dizendo há um tempo que as novas safras de crédito tinham uma qualidade melhor. Agora, conseguiu provar isso com números,” diz um analista. “É indiscutível que a maré virou.”

A dúvida é quando o banco vai voltar a tomar risco e crescer. “Por enquanto, nada indica que será uma recuperação rápida,” diz um analista.

O Bradesco divulgou uma parcial do cumprimento do guidance para este ano, considerando os dados de janeiro a setembro: os números mostram que o Bradesco teria de acelerar bastante para bater as projeções.

A carteira de crédito diminuiu 0,1% de janeiro a setembro, enquanto o guidance prevê uma expansão de 1% a 5%.

A margem financeira total caiu 1,3%, frente uma estimativa de crescimento de 2% a 6%.

O dado positivo veio da operação de seguros, previdência e capitalização: o resultado aumentou 25,6% – a alta esperada para o ano é de 21% a 25%.

O lucro líquido recorrente do grupo segurador – sempre um bright spot do banco – cresceu 32,7% de janeiro a setembro. No terceiro trimestre, o aumento foi de 57,5% frente ao mesmo período de 2022.