O Bradesco lucrou R$ 5,2 bilhões no terceiro trimestre, 11% mais que no trimestre anterior e 13% acima do mesmo período de 2023.
O número ficou praticamente dentro da expectativa do mercado – pouco acima do que esperava o sellside e pouco abaixo do buyside, segundo o BTG Pactual – mas a análise linha a linha do balanço mostra como é complicada a trajetória de recuperação do banco.
O resultado anterior havia deixado os investidores mais otimistas, o que fez a ação subir cerca de 20% do anúncio até ontem. Hoje, porém, o papel está realizando, em queda de 4% com um Ibovespa praticamente estável.
No campo positivo, a carteira de crédito cresceu 3,5% frente ao segundo tri e 7,6% na comparação anual. Foi uma expansão mais forte que a do trimestre anterior e um alívio depois do balanço do Santander, que mostrou contração da carteira tri a tri.
O ROE trimestral, que bateu num low de 6,9% no fim de 2023, subiu para 12,4% – ainda abaixo dos concorrentes mas “mantendo o caminho gradual de retomada da rentabilidade,” escreveram os analistas da Goldman Sachs.
As receitas com serviços aumentaram 6,3% em relação ao segundo tri e 8,7% frente ao mesmo período de 2023. Desconsiderando o aumento da participação na Cielo, a alta foi de 2,8% e 5,1% respectivamente.
O banco ainda vai anunciar hoje uma nova segmentação para clientes de alta renda, cujo objetivo é capturar mais receitas com esse público.
A seguradora continuou apresentando números sólidos. A receita chegou a R$ 32 bilhões – expansão de 4,2% no trimestre e 11,7% no ano – e o lucro líquido subiu para R$ 2,4 bilhões, uma alta de 8,1% frente ao segundo tri e de 0,9% na comparação anual. O ROE aumentou de 22,1% para 23,7%.
O problema do balanço foi a margem com clientes. Esse indicador aumentou no terceiro trimestre – 2,5% frente ao segundo tri –, mas a expansão foi menor que os 5% do trimestre anterior e também ficou abaixo do crescimento da carteira de crédito.
Ou seja, o banco emprestou mais, mas com rentabilidade moderada. “Isso reflete a nossa opção de dar maior foco ao retorno ajustado ao risco,” o CEO Marcelo Noronha disse na call hoje cedo.
“Não importa o quanto crescemos, o que importa é o bottom line. Se a expansão da margem for igual à da carteira de crédito mas a provisão aumentar, erramos”, afirmou. “Tracionamos, crescemos, mas com risco e custo de crédito controlados. E a tendência é continuar assim”
O banco passou a divulgar a margem com clientes líquida de provisões, que aumentou 6,8% tri a tri e 28% frente ao mesmo período do ano passado.
“Claro que o líquido é importante, mas não dá para melhorar a margem apenas reduzindo provisões. Isso tem um limite, especialmente quando o cenário tende a ficar um pouco mais complicado com a alta da Selic,” diz um analista do sellside.
“A margem pós-provisões ficou acima do esperado, mas o ambiente mais desafiador para o crescimento desse indicador, em razão da Selic mais alta e dos spreads de crédito mais apertados, pode desapontar aqueles que esperam por uma recuperação mais rápida do ROE,” escreveu Eduardo Rosman, analista do BTG, que tem recomendação neutra para o papel.
A inadimplência caiu pouco – 0,1 ponto percentual –, o que indica que o Bradesco está perto do fim de limpeza da carteira que consumiu o resultado nos últimos anos. “A inadimplência vai cair em ritmo menor, mas continuará caindo,” diz Noronha.
Se o cenário macro piorar e pressionar a inadimplência, o banco está preparado, com um mix de crédito “seguro”, disse o executivo. “E, caso ocorra algum estresse, sempre podemos puxar o freio.”