A Bolt Energy — dona de uma comercializadora de energia e de projetos greenfield de geração — acaba de criar um novo fundo de direitos creditórios para comprar contratos de energia, aumentando a liquidez do mercado num momento em que o País flerta com o racionamento.
O FIDC de R$ 300 milhões foi subscrito por apenas dois investidores: a própria Bolt e a Riza Asset, a gestora de Daniel Lemos que vai atuar também como gestora do fundo.
O Bolt ficou com as cotas subordinadas — a parcela de maior risco e retorno — e a expectativa é fazer uma nova emissão de cotas em breve, levantando mais R$ 300 milhões dependendo da demanda do mercado.
A tese do Bolt Energy FIDC é comprar contratos de energia de longo prazo, principalmente de projetos de geração solar e eólica, na prática securitizando o fluxo de caixa da dona do projeto.
Por exemplo, a dona de um parque solar que fechou um contrato de fornecimento de energia para uma grande indústria poderá vender esse contrato para a Bolt recebendo o fluxo de pagamentos dos cinco anos de imediato.
A originação dos contratos será feita pela comercializadora da Bolt, que já atende 1.200 clientes, incluindo empresas como CGN, Copel, Minerva, Marfrig e Suzano. A comercializadora vendeu 800 MW/mês de energia no ano passado e deve vender 1,1 GW/mês este ano.
“As contrapartes com as quais a Bolt faz negócios são sempre empresas com ótimo perfil de crédito. Além disso, temos uma carteira de contratos de longo prazo com vencimento até 2040,” Gustavo Ayala, o CEO da Bolt, disse ao Brazil Journal.
Segundo ele, o Bolt Energy FIDC já alocou R$ 50 milhões do capital em contratos de venda de energia de projetos eólicos na Bahia e no Rio Grande do Norte. A expectativa é alocar 100% do capital até o final do ano que vem.
O novo fundo faz parte da estratégia da Bolt de construir um ecossistema integrado de energia, com sinergias entre os diferentes negócios. A empresa tem vários projetos greenfield de parques solares e eólicos em desenvolvimento que devem suprir a demanda da comercializadora.
Já o fundo vai comprar parte dos contratos vendidos pela comercializadora, dando mais liquidez e crédito ao mercado e estimulando o crescimento do setor.
O FIDC da Bolt gera um benefício para as duas pontas: além de antecipar o fluxo de caixa para a geradora, ele consegue dar mais flexibilidade no pagamento dos contratos para os consumidores de energia.
Uma indústria com um contrato de fornecimento de energia de cinco anos mas com limitação orçamentária em 2022 pode negociar pagar menos no ano que vem e compensar a diferença nos anos seguintes.
A Bolt começou em 2009 com o FIP Geração de Energia, que tinha participação em alguns ativos de geração, como a termelétrica Linhares e uma PCH no Mato Grosso. O FIP também era dono da comercializadora Bolt e de ativos de eficiência energética.
Há dois anos, no processo de desinvestimento do FIP, o family office Limongi, da família Limongi Netto, comprou a comercializadora e trouxe os executivos que tocavam o negócio como sócios — Gustavo e Henrique Campos — dando origem à estrutura atual da empresa.
O Bolt Energy FIDC tem prazo de seis anos, mas, como são apenas dois cotistas, “se acharmos boas oportunidades com um prazo maior, podemos estender,” disse Gustavo.