Num discurso estatista de fazer inveja ao Lula dos tempos de São Bernardo, o presidente Jair Bolsonaro finalmente deixou a máscara cair.
Ao falar sobre a eventual privatização da Ceagesp, que já havia sido acordada com o Governo Dória, Bolsonaro esqueceu do discurso liberal com o qual se elegeu e assumiu a postura estatista que sempre foi sua natureza desde a época em que endossava Hugo Chávez.
“Quando se fala em privatização eu quero deixar bem claro: enquanto eu for Presidente da República, essa é a casa de vocês,” disse ele a centenas de funcionários da empresa apertados entre si e sem máscara. “Nenhum rato vai querer sucatear isso aqui para privatizar para os seus amigos. Não tem espaço para isso aqui, quero deixar bem claro.”
O Ministro da Economia, Paulo Guedes, disse há algumas semanas estar “bastante frustrado” com os rumos do programa de privatizações, e o homem que deveria ter sido o czar das privatizações, Salim Mattar, deixou o Governo há meses dizendo que ficou claro que Brasília não quer a privatização.
O governo Bolsonaro começou o mandato com 46 estatais de controle da União e vai terminar 2020 — surpresa! — com 46.
No dia 6 de julho, com o País ainda lutando contra o dano econômico (e o impacto fiscal) da primeira onda da pandemia, Guedes havia dito: “Nós vamos fazer 4 grandes privatizações nos próximos 30, 60, 90 dias.”
Nada aconteceu.
Para completar o dia, em entrevista ao programa Brasil Urgente, Bolsonaro deu outra amostra de um tipo de liderança que, se “livrou o País da esquerda” em 2018, dá cada vez mais sinais de que não conseguirá nos levar até 2022.
“Eu não vou tomar vacina e ponto final. Minha vida está em risco? O problema é meu,” disse o presidente, dobrando a aposta no negacionismo e contra a ciência — a marca dos neopopulistas.
De onde menos se espera… é daí que não sai nada mesmo.