Steve Cohen — o gestor de sucesso sem paralelo, riqueza superlativa e ética questionável que inspirou o personagem Bobby Axelrod na série Billions — quer fazer uma volta triunfal ao mercado.
Em 2013, com sua firma condenada por insider trading, Cohen fechou um acordo com a SEC pelo qual se comprometeu a não administrar recursos de terceiros até 2018.
Agora que o prazo está prestes a vencer, ele trabalha para lançar um novo fundo com a meta de captar US$ 20 bilhões – o que seria, com folga, o maior lançamento de um hedge fund na história dos Estados Unidos, segundo o The Wall Street Journal. Do total, US$ 11 bilhões virão de seu patrimônio pessoal, hoje forçosamente aplicado em seu family office, a Point72 Asset Management. Os US$ 9 bilhões restantes serão captados junto a investidores externos.
Para se ter uma ideia da proeza, o maior hedge fund já lançado até agora tinha US$ 11 bilhões na largada. E, em seu ápice, a firma de Cohen, SAC Capital Advisors, administrava US$ 16 bilhões.
Enquanto na série de TV Axe rasgou o acordo na cara do promotor Chuck Rhoades, na vida real Cohen não teve tantos cojones: sua firma se declarou culpada e pagou uma multa de US$ 1,8 bilhão.
A gestora teve oito funcionários condenados, incluindo o trader Mathew Martoma; preso, ele serve uma sentença de nove anos. A única acusação formal contra Cohen foi ter falhado em supervisioná-lo, mas o texto do acordo com a SEC mostra outro paralelo da vida real com a ficção. Assim como o personagem ‘Dollar Bill’ em Billions, Martoma conversou com um médico sobre resultados ainda não-públicos de testes clínicos feitos com uma nova droga; a informação foi usada para montar posições em Bolsa. (Na série, Dollar Bill extrai a informação de um fazendeiro.)
Wall Street se prepara para a volta de Cohen desde que ele fez o acordo com a SEC. Ele nunca fez questão de esconder o desejo de voltar à ativa e, ao contrário da maioria dos family offices, a Point72 sempre fez questão de se manter nos holofotes.
A gestora conta com profissionais de relações públicas para lapidar sua imagem, lançou um programa para treinar recém-formados que podem ser contratados, e tem um ex-procurador federal no quadro de funcionários para manter o negócio na linha.
Segundo o Business Insider, o resultado dos esforços de captação de Cohen vai mostrar se o que prevalece no mercado é o passado ou o futuro de Cohen — sua reputação como gênio do trading que conseguiu um retorno médio anualizado de 25%… ou a de mercenário que ganhou dinheiro à custa de trapaça?
O mercado vai se pronunciar nos próximos meses, mas John Coffee, o respeitado professor de Columbia especializado em mercado de capitais, já antecipou sua resposta: ele disse ao WSJ que um retorno triunfal de Cohen seria “uma prova extraordinária” da falta de escrúpulos do mercado. “Temo que ele vá achar muitos clientes.”