O Bank of International Settlements (BIS), uma espécie de banco central dos bancos centrais, está preocupado com o avanço das stablecoins — um mercado de US$ 240 bilhões que tem muito para crescer agora que os EUA estão regulamentando o assunto.

Em um capítulo de seu relatório econômico anual lançado antecipadamente nesta semana, o BIS diz que as criptomoedas lastreadas em ativos estáveis não preenchem os requisitos necessários para se tornarem o principal pilar do sistema monetário — e que os BCs precisam agir agora para impedir esse desdobramento.

Segundo o BIS, embora possam eventualmente desempenhar um papel secundário no sistema financeiro, as stablecoins não superam os testes de unicidade, elasticidade e integridade.

“Portanto, além de atuarem como uma porta de entrada para o ecossistema de criptomoedas, seu papel futuro é incerto,” escreveu o economista sul-coreano Hyun Song Shin.

A solução proposta pelo BIS é que os BCs tomem a dianteira das discussões e da tokenização de ativos para ganhar eficiência, abrir novos mercados e proteger o sistema.

O modelo proposto no paper é o “unified ledger”, um registro unificado que tokenizaria as reservas do banco central, o dinheiro dos bancos comerciais e os títulos do governo do país em questão.

“A tokenização de depósitos e de moeda do banco central significa que tanto o meio de pagamento principal quanto a função de liquidação da moeda do banco central podem ser integrados perfeitamente na mesma plataforma programável. Ela tem o potencial de transformar os mercados de valores mobiliários e sua aplicação em bancos correspondentes é especialmente promissora,” disse Hyun Song Shin.

Coincidência ou não, o alerta do BIS — que diz já estar trabalhando o tema com alguns BCs — ocorre dias depois do Senado dos EUA aprovar uma lei que regulamenta as stablecoins no país.  

Batizado de GENIUS Act, o projeto de lei determina que as criptomoedas sejam lastreadas por ativos líquidos, como o dólar ou os Treasuries de curto prazo, e que os emissores divulguem mensalmente a composição de suas reservas.

Analistas afirmam que a nova lei, que ainda precisa passar pela Câmara antes de chegar à mesa do Presidente Trump, aumenta a segurança jurídica em torno da utilização das stablecoins e abre espaço para que bancos, fintechs e varejistas criem suas próprias criptomoedas.

A Amazon e o Walmart são algumas das empresas americanas que estudam avançar por este caminho, num movimento que transferiria seus altos volumes de transações em dinheiro e cartões para fora do sistema financeiro tradicional e traria uma economia de bilhões de dólares em fees para as empresas, segundo o Wall Street Journal.

A possibilidade de uma mudança tão drástica no sistema de pagamentos fez as ações da Visa e Mastercard recuarem 5% depois da aprovação do GENIUS Act pelo Senado.

Mas o management da Visa garante que a empresa não vai sofrer, por estar se preparando há anos para a tokenização das transações.

“A lei vai dar clareza para o setor e nós nos preparamos para este momento,” o CEO Ryan McInerney disse à CNBC. “Se as stablecoins se tornarem as moedas que as pessoas querem utilizar, nós vamos dar acesso e escala a isso com os nossos sistemas.”