Depois da oferta do Carrefour para fechar o capital do Atacadão e da aquisição da Santos Brasil e da Wilson Sons por players internacionais, o Bradesco BBI se debruçou sobre o tema para tentar adivinhar quem pode ser o próximo alvo. 

Num relatório publicado hoje, o banco elencou 31 empresas listadas na América Latina que são controladas ou cujo maior acionista é uma multinacional — e definiu três critérios que as tornam alvos em potencial.

O primeiro é que a multinacional negocie com um prêmio de 20% sobre o valuation da subsidiária, o que seria o prêmio mínimo que os minoritários exigiriam.

O segundo é que a transação não seja grande demais, ou seja, que o alvo represente no máximo 10% do market cap do comprador. 

Por fim, a transação teria que fazer sentido estratégico, ou porque a América Latina representa mais de 20% do lucro da multinacional, ou porque há uma estratégia de priorizar a região. 

Este filtro já exclui diversas companhias, segundo o Bradesco.
“A Coca-Cola tem um prêmio de valuation gigante em relação a suas engarrafadoras listadas na América Latina, mas tem uma estratégia de desinvestir, e não de comprar engarrafadoras. A América Latina também contribui com menos de 20% do resultado,” escreveu o time de analistas liderado por Ben Laidler. 

“De forma semelhante, as operações mexicanas do Walmart e da Kimberly Clark (ambas listadas) podem não ser relevantes o suficiente, apesar do enorme gap de valuation.”

O Bradesco diz, no entanto, que há duas empresas que se encaixam em seu ‘predator screen’: a Inbev e a Telefónica. 

A Inbev negocia com um prêmio de valuation de 20% sobre a Ambev, tem uma forte geração de caixa, um tamanho relativamente maior (já que uma transação sem prêmio pela fatia que a Inbev ainda não tem representaria apenas 10% de seu market cap), e um foco forte na América Latina, que respondeu por 67% do EBITDA do último trimestre. 

“A Telefónica também preenche dois dos três critérios, com um prêmio de valuation de 40% para sua subsidiária brasileira e com o País sendo um mercado chave, representando 57% do EBITDA, mesmo com ela desinvestindo do resto da região (o que poderia liberar capital para investimentos). No entanto, uma transação sem prêmio representaria uma fatia relevante de 13% de seu market cap.”

A Inbev já tem 62% do capital da Ambev e precisaria desembolsar US$ 12,4 bilhões para comprar o restante, enquanto a Telefónica tem 72% do capital da Vivo e precisaria fazer um PIX de US$ 3,4 bilhões. 

Outros potenciais compradores seriam as gestoras de private equity, que têm um dry powder de US$ 1,2 trilhão a serem investidos no mercado global nos próximos anos. (O banco não quantifica a munição dos fundos dedicados à América Latina). 

O Bradesco lembra inclusive que recentemente houve boatos de que a General Atlantic e o GIC poderiam ter interesse em fechar o capital da Serena Energia. 

A análise do Bradesco vem num momento em que os valuations dos mercados públicos estão ficando para trás em relação à média dos múltiplos das transações de private equity. 

Segundo o banco, as 63 transações de private equity na América Latina em 2024 saíram a uma média de 11x lucro e 5x EBITDA, enquanto o MSCI Latam negocia a 7,3x lucro. 

Apesar disso, o Bradesco disse que vê as gestoras de private equity da região muito mais como vendedoras do que compradoras. 

“As transações para tirar uma empresa da Bolsa têm sido raras na América Latina, com apenas sete no último ano, ou só 2% de todas as transações. O mais provável é que as gestoras de private equity continuem a monetizar suas participações nas empresas listadas.”