Imagine uma holding que tem participações em diversas marcas nativas digitais, o modelo de negócios que mais se beneficia da economia dos influencers.
Esse é o negócio da Merama, uma startup fundada há apenas quatro meses e que está trazendo ao Brasil o modelo de agregadores de marcas.
Numa das maiores rodadas Series A dos últimos anos, a startup acaba de captar US$ 160 milhões — US$ 60 milhões em equity e o restante em linhas de crédito.
O equity veio da Monashees, Valor Capital, Maya Capital e Balderton — uma gestora do Reino Unido que até pouco tempo era a filial do Benchmark na Europa. A rodada incluiu ainda o fundador da MadeiraMadeira, Daniel Scandian; o cofundador do IFood, Guilherme Bonifácio; e o cofundador da Loggi, Fabien Mendez.
O crédito virá do Triple Point Capital, um dos principais bancos de ‘venture debt’ do Vale do Silício.
A Merama diz que seu valuation na rodada ficou “acima de US$ 200 milhões” (mais de R$ 1 bi ao câmbio de hoje), sem especificar.
A startup está tentando adaptar para a América Latina um modelo explorado nos EUA por empresas como a Perch e a Thrasio: ambas compram marcas que vendem apenas em marketplaces, injetam capital e as ajudam a crescer.
Essas marcas independentes já se tornaram um big business. A Anker, que vende baterias de celular e outros acessórios apenas na Amazon, fez seu IPO ano passado e já vale mais de US$ 1 bilhão na Bolsa de Shenzhen.
A Merama está em negociações com diversas marcas no Brasil e no México, e já deve anunciar seus primeiros investimentos nas próximas semanas.
A startup vai comprar participações majoritárias com contratos que incluem uma ‘call option’ para adquirir o restante do capital, além de um ‘earnout’ para os fundadores.
“São marcas de segmentos diversos, desde esportes e acessórios de computador até cosméticos,” Renato Andrade, o cofundador, disse ao Brazil Journal. “O ponto principal é que sejam marcas independentes e com foco nas vendas em marketplaces.”
Segundo ele, a expectativa é terminar o ano com algumas dezenas de marcas no portfólio que conjuntamente faturem perto de US$ 100 milhões.
A tese da Merama é reinvestir todo o resultado gerado pelas marcas no próprio negócio, o que fará com que a holding não receba nenhum fluxo financeiro das investidas num primeiro momento.
Mas como pagar os juros da dívida e cobrir as despesas se a caixa registradora não toca?
“No começo vamos fazer a rolagem da dívida e levantar equity com muita frequência, que é o que os agregadores americanos fazem,” diz Guilherme Nosralla, o outro fundador. “Se precisarmos de dinheiro, é só frear o crescimento.”
Os fundadores da Merama se conheceram na McKinsey, onde Renato trabalhou por mais de cinco anos e Guilherme por nove atendendo empresas de varejo e bens de consumo. O insight para criar a startup surgiu quando eles leram uma matéria sobre uma rodada da Perch e foram pesquisar se havia algo parecido na América Latina.
Ao descobrir que não, os dois começaram a conversar com investidores e um deles os apresentou aos mexicanos Sujay Tyle e Felipe Delgado, que estavam com a ideia de fazer exatamente a mesma coisa no México. Juntos, os quatro fundaram a Merama, que já nasce com 40 funcionários no Brasil, México e outros países da América Latina.
Sujay é um empreendedor serial: entrou em Harvard com 16 anos, fundou sua primeira empresa com 22, e em seguida vendeu o negócio para a Naspers colocando no bolso mais de US$ 700 milhões.
“O que esses agregadores deixaram claro é que hoje tem um jeito novo de construir marcas… o que antes era a P&G criando novos produtos e fazendo propagandas na televisão, hoje são marcas independentes surgindo dentro da Amazon e do Mercado Livre,” diz Renato.