Arminio Fraga, fundador da Gávea Investimentos, está na reta final de negociações para recomprar o controle da gestora, hoje nas mãos do JP Morgan Chase.
O banco americano receberá ao longo de 10 anos, num arranjo de ‘earnout’ em que os lucros da empresa serão usados como pagamento.
A ’nova Gávea’ terá apenas duas linhas de negócio: private equity (compra de participações em empresas que ainda não estão na Bolsa) e hedge funds (fundos que operam ativos em diversos mercados e no mundo todo).
Outras duas estratégias — os fundos de ações e a área de investimentos imobiliários — poderão continuar com o JP Morgan ou buscar outro caminho.
Após a recompra, os ativos sob gestão da Gávea, hoje em 5 bilhões de dólares, devem cair cerca de 10%, diz uma fonte da gestora.
A menor complexidade que esta ‘nova Gávea’ terá levou à saída de Eduardo Rudge, o CFO da empresa e responsável por toda a parte administrativa da Gávea. “Parte daquela estrutura de governança e compliance que você tem que ter quando é controlado por um banco americano passa a ser desnecessária depois da recompra,” diz uma fonte da gestora.
Em paralelo a este movimento, a Gávea tem visto um ‘turnover’ sem precedentes em seu time de gestão de private equity, que investiu em empresas como Arcos Dorados (a franquia do MacDonald’s na América Latina), a companhia aérea Azul, e que é sócia do grupo Odebrecht em negócios imobiliários e de exploração de petróleo.
Cerca de 40% do time do private equity deixaram a empresa ao longo do último ano. As decisões foram tomadas por fatores que vão da vida familiar aos incentivos ligados à performance dos fundos e, em alguns casos, diferenças sobre estratégia.
A primeira defecção foi de Piero Minardi, que trocou a Gávea pela Warburg Pincus há cerca de um ano.
Carlos Barros, outro sócio no private equity, deixou a empresa em dezembro para se tornar CFO da empresa de diagnósticos Dasa. Barros queria ter uma experiência operacional em empresas, mas a troca levantou sobrancelhas no mercado porque ele havia participado do investimento numa concorrente da Dasa, a Hermes Pardini.
Agora, Christopher Meyn, o co-head do private equity que estava na Gávea desde o início, está saindo porque decidiu passar mais tempo com os filhos, que moram fora, declinando uma oferta para continuar na empresa após a recompra.
Nas duas últimas semanas, também deixaram a empresa Henrique Muramoto e Frederico Pascowitch, ambos há mais de sete anos na Gávea.
A partida dos executivos vem num momento em que a Gávea se prepara para investir seu quinto fundo de private equity, de 1,1 bilhão de dólares, captado em outubro do ano passado.
Para alguns executivos, o fator remuneração pode ter sido uma variável importante. O fundo Gávea IV, o mais recente que a Gávea investiu, provavelmente não vai gerar taxa de performance para os gestores, já que a taxa de câmbio se desvalorizou dramaticamente nos últimos dois anos. O fundo só paga performance se obtiver um retorno acima de 8% ao ano, em dólares.
A carteira investimentos do Gávea IV, que captou 1,9 bilhão de dólares em novembro de 2011, inclui a fabricante de celulose Fibria, a companhia elétrica Energisa, a empresa de aluguel de carros Unidas, a marca de óculos Chili Beans, a Odebrecht Oleo e Gás, a Camil Alimentos, e o laboratório Hermes Pardini.
Fraga fundou a Gávea em 2003, depois de ter sido presidente do Banco Central no Governo Fernando Henrique Cardoso e ter feito a transição para Henrique Meirelles.
Em 27 outubro de 2010, o JP Morgan comprou 55% da Gávea por um valor não divulgado e, nos anos seguintes, comprou o restante. O contrato previa a continuidade de Fraga à frente da gestora por cinco anos — um prazo que expira em três meses. No ano em que Fraga vendeu o controle da Gávea, o PIB do Brasil cresceu 7,5%. (Aquele PIB foi beneficiado, em parte, pela base de comparação com o ano anterior, quando a economia encolhera 0,6%. Ainda assim, tratava-se de outro Brasil.) Este ano, a economia deve encolher 2%, e a recessão pode se estender até 2017.
Está claro que Fraga — que já ganhou a vida operando para o quase-mitológico George Soros — vendeu na alta e está recomprando na baixa. Daqui pra frente, a economia dirá se seu timing foi apenas bom ou simplesmente perfeito.