A ANP decidiu paralisar a produção do Campo de Peregrino, num movimento inesperado e que deve gerar um impacto relevante na geração de caixa da PRIO.

A companhia tem 40% de Peregrino, e a Equinor, que é quem ainda opera o campo, tem os 60% restantes. Mas em breve a empresa de Nelson Tanure terá 100%, já que comprou a participação da Equinor em maio e a previsão é que a transação seja concluída no início do ano que vem.

A paralisação foi por conta de “falhas críticas e sistêmicas” encontradas pela agência regulatória no FPSO do campo, além de problemas com documentação. 

A ANP fez uma auditoria no FPSO entre 11 e 15 de agosto, e anunciou a paralisação na sexta-feira, no final do dia. “Durante esta ação de fiscalização foram identificadas diversas situações de risco grave e iminente que obrigam a lavratura desta medida cautelar de interdição,” disse a agência.

O CEO da PRIO, Roberto Monteiro, disse ao Brazil Journal agora de manhã que “do ponto de vista prático, a situação não muda em nada nossa visão sobre o ativo. É principalmente uma questão da documentação de segurança da unidade, que será resolvida.”

Num fato relevante publicado agora à pouco, a PRIO disse que a Equinor já iniciou os reparos necessários e que a estimativa da operadora é que os trabalhos para a adequação do FPSO às exigências da ANP durem de 3 a 6 semanas. 

Monteiro disse que os 40% de Peregrino geram hoje cerca de US$ 40 milhões por mês para a companhia. Considerando o range dado pela própria PRIO, o impacto potencial seria de US$ 30 milhões a US$ 60 milhões. 

Na XP, o analista Regis Cardoso tentou estimar o impacto considerando também os 60% que a companhia adquiriu. “No pior cenário, assumindo 100% do capital e uma paralisação completa da produção, estimamos um impacto econômico de US$ 30 milhões (ou 0,5% do market cap da companhia) para cada sete dias de produção paralisada,” escreveu o analista.

Considerando o prazo estimado pela PRIO, isso poderia significar uma perda de caixa de US$ 90 milhões no cenário mais otimista (3 semanas) e de US$ 180 milhões no mais conservador (6 semanas). 

O campo de Peregrino tem reservas de 202 milhões de barris e uma produção diária de cerca de 100 mil barris, com a PRIO ficando com 40% disso hoje. Para efeito de comparação, a companhia tem uma produção total de cerca de 90 mil barris.

Uma dúvida no mercado é se a paralisação pode impactar no preço que a PRIO pagará pela participação de Equinor, o que poderia mitigar em parte o impacto.

Quando fez a aquisição, a companhia disse que o valor de US$ 3,35 bi pago pelos ativos seria ajustado até o closing “a depender de geração de caixa no período.”

O CEO da PRIO disse que o foco da companhia agora é ajudar a Equinor a fazer o campo voltar a produzir, mas que contratos de compra e venda tipicamente têm cláusulas que ajustam o preço nesse tipo de situação. “Essa é uma discussão que vai vir depois, mas pode ser que a gente consiga recuperar as perdas dos 60%.”

A PRIO vale R$ 34,7 bilhões na B3, com sua ação caindo 19% nos últimos doze meses.