Antes do cheque mega-blaster-bilionário, Jorge Paulo achou melhor mandar uma cartinha de amor.

A Anheuser-Busch InBev (ABI), controlada pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, confirmou que está trabalhando numa oferta pela SABMiller, depois de anos de especulação por parte dos investidores de que o casamento entre as duas maiores cervejarias globais seria inevitável. Jorge Paulo Lemann 

A ABI enviou uma carta ao conselho de administração da SABMiller dizendo que gostaria de trabalhar conjuntamente para fazer uma oferta aos acionistas da SAB que pudesse ser recomendada por seu conselho. A cervejaria anglo-sulafricana disse que “vai avaliar e responder apropriadamente a qualquer proposta que possa ser feita.”

A falta de uma proposta com preço e condições específicas e a tentativa da ABI de construir um consenso que evite uma oferta hostil mostram  as complexidades de uma transação que envolve múltiplos atores e inúmeras jurisdições.

A ABI tem que se acertar com os dois maiores acionistas da SABMiller: a Altria (antiga Philip Morris) e a família Santo Domingo, da Colômbia.  A forma como estes dois investidores serão pagos (se em dinheiro ou em ações) tem imensas implicações fiscais, e seu desejo de permanecer no conselho da nova empresa afeta a governança e o controle.

Nos EUA, a ABI tem que lidar com o Departamento de Justiça, que monitora concenração de mercado. O negócio da SAB nos EUA — a Miller Coors — é uma joint venture com a Molson. Para o DOJ aprovar uma fusão da ABI com a SAB, a nova empresa terá que vender sua parte na JV para a Molson.

Na manhã desta quarta, as ações da SABMiller estão em alta de 20% em Londres e as da Anheuser-Busch Inbev, de 10%. A coluna comentou ontem à noite a possível iminência de uma oferta.

No fechamento de ontem, a SABMiller tinha uma valor de mercado de cerca de 75 bilhões de dólares. A ABI valia 171 bilhões de dólares.

No Brasil, a operação pode ter implicações para a Ambev — cuja ação sobe 1% esta manhã, em linha com o mercado — se a ABI decidir usar o balanço da Ambev na operação.  Num desenho possível, a Ambev ficaria com os ativos latino-americanos da SAB, incluindo o filé mignon, a Colômbia, onde a marca Bavária é quase um monopólio.