Há duas semanas, o presidente da Amazon no Brasil se esquivou de dar detalhes sobre os planos da empresa no País.
Mas agora, um relatório do BTG Pactual diz que a Amazon pode começar a vender mais do que livros por aqui já no mês que vem.
Num relatório publicado ontem à noite, os analistas Fabio Monteiro e Luiz Guanais dizem ter falado com “seis dos maiores vendedores de marketplace brasileiros, todos com uma fatia de mercado relevante nas principais plataformas de ecommerce do País. Alguns deles confirmaram que a Amazon está em contato com eles para aumentar o sortimento de produtos no Brasil no curto prazo (entre julho e outubro) em categorias como eletrônicos e celulares, inicialmente apenas no segmento de marketplace.”
Os vendedores disseram aos analistas que “a Amazon tem sido muito diligente em selecionar os ‘best sellers’ para começar suas operações no País, investindo tempo para entender o que é necessário para fazer negócios no complexo mercado brasileiro.”
Como se sabe, a Amazon começou a operar no Brasil em 2012, vendendo apenas e-books, e dois anos depois avançou para a venda de livros físicos. Em abril deste ano, foi a vez de lançar seu marketplace, mas também restrito a livros. Segundo o BTG, a Amazon tem cerca de 1.000 vendedores de livros em sua plataforma brasileira, e já vendeu mais de 300.000 livros, o que daria, segundo o banco, 10% do mercado editorial brasileiro.
Os analistas do BTG acham que a Amazon pode fazer aquisições para crescer mais rápido no Brasil, mas não especulam alvos.
Em sua entrevista ao Brazil Journal, o CEO da Amazon no Brasil, Alex Szapiro, disse que as aquisições da Amazon em todo o mundo têm um traço comum: “ela geralmente compra empresas que têm um management fantástico, que tenham inovações que ela possa usar em outros lugares do mundo, ou que ela possa usar pra aprender.”
Na América Latina, empresas que se encaixam nesta definição incluem o Mercado Livre — cujo múltiplo de 75 vezes lucro e valor de mercado de US$ 12 bilhões falam por si só sobre a competência do management — ou mesmo o Magazine Luiza, que tem cada vez mais usado a própria Amazon como benchmark e cujo marketplace já tem 200 lojistas vendendo 400 mil itens. Qualquer especulação neste sentido, no entanto, provavelmente vale o mesmo que uma nota de US$3.
A Amazon não pode ficar fora do Brasil. O ecommerce movimentou R$59 bilhões no País no ano passado, e deve chegar a R$ 135 bilhões em cinco anos, segundo a estimativa que o BTG usou no relatório. E ainda que o ecommerce hoje seja apenas 3,5% das vendas totais do varejo, ele vai crescer mais rapidamente que o varejo físico nos próximos anos.
As quatro maiores companhias que fazem ecommerce no Brasil são donas de 55% do mercado, mas de apenas 2% das vendas totais do varejo.
Para efeito de comparação, apesar de ainda vender apenas livros, a Amazon já tem cerca de 20% do tráfego da Americanas.com e cerca de metade do tráfego de outros grandes websites de ecommerce como Submarino e Walmart.com. A maior parte do tráfego da Amazon (62%) é orgânico — tráfego que independe de gastos com marketing — um percentual similar ao de outros sites líderes de mercado.
Por enquanto, as empresas brasileiras têm assistido de arquibancada o potencial de disruption da Amazon e seu efeito sobre o varejo norte-americano. Em breve, o jogo começará a ser jogado aqui.