Em seu movimento mais agressivo no mercado brasileiro, a Amazon a partir de hoje começa a operar com estoque próprio no País — em vez de ser apenas um marketplace para outros vendedores — além de gerenciar toda a logística de entrega. A venda a partir de estoque próprio é conhecida no jargão do mercado como “1P”.
A Amazon estreia com 120 mil produtos (ou SKUs, no jargão do varejo) em seu estoque, distribuídos em 12 categorias, incluindo quatro novas: cuidados pessoais, beleza, bebê e brinquedos.
Pela primeira vez, a Amazon venderá eletrônicos a partir de seu estoque, com marcas como Motorola, LG e Samsung; curiosamente, a linha branca permanece ausente do site da empresa.
“Esses 120 mil SKUs são um dado de lançamento”, Alex Szapiro, country manager da Amazon no país, disse ao Brazil Journal. “Não gastamos tempo olhando a concorrência, gastamos a maior parte do nosso tempo vendo tudo o que os fornecedores têm de disponível e tudo aquilo que eles têm queremos trazer para o catálogo”.
No 1P, a Amazon está oferecendo frete grátis para qualquer lugar do Brasil nas compras acima de R$ 149.
Para se lançar nas vendas com estoque próprio, a companhia inaugurou um centro de distribuição de 47 mil metros quadrados em Cajamar, na região metropolitana de São Paulo. A área equivale a 10 campos de futebol.
Até agora, a Amazon operava no Brasil apenas no modelo de marketplace (ou 3P), em que serve como vitrine para vendedores, que ficam responsáveis pelo estoque, precificação e o envio das mercadorias. A exceção era a operação de livros, a única em que a Amazon já trabalhava com estoque próprio.
Apesar da marca forte, a Amazon tem avançado vagarosamente no País. O BTG Pactual estima que a companhia comercializou R$ 410 milhões em produtos em 2017 e R$ 600 milhões no ano passado.
Com as complexidades tributárias, a dificuldade de azeitar a logística e negociações duras com fornecedores, a entrada no 1P levou mais tempo que o esperado. Reportagens e relatórios de bancos diziam que a estreia estava prevista para setembro passado.
A operação própria vem num momento em que os principais players de ecommerce do Brasil, como Magazine Luiza e B2W, já estão bem avançados em termos de logística.
“Apesar do sucesso da Amazon na Alemanha, no Reino Unido e nos Estados Unidos, o forte crescimento na Índia e a posição de liderança no Japão, no Brasil, esperamos que a companhia siga enfrentando forte competição de players bem estabelecidos que investiram nos últimos anos em fulfillment e construíram ecossistemas completos”, o analista do BTG Fabio Monteiro disse num relatório publicado ontem.
O banco acredita que a companhia está mirando um share de “dois dígitos baixos” no mercado brasileiro, e manteve suas recomendações para B2W e Magazine Luiza.
O frete grátis para produtos acima de R$ 149 vem em linha com o que os concorrentes já estão praticando.
O Mercado Livre dá frete grátis para compras acima de R$ 120, com exceção das regiões Norte e Nordeste. Já o Magazine Luiza não cobra a entrega de produtos vendidos e entregues pela própria companhia (e não marketplace) para compras acima de R$ 99, com exceção de móveis. Há ainda o ‘click and collect’, a modalidade de compra online com retirada nas lojas, normalmente em até dois dias úteis, e que já responde por 32% de tudo que é vendido no site.
Já a B2W tem o Prime, em que o cliente paga R$ 79 por ano e tem acesso a entrega grátis no dia seguinte em 2.500 municípios do Sul e Sudeste.
O Brazil Journal perguntou a Szapiro se era economicamente viável atender todo o Brasil a partir de apenas um centro de distribuição.
“Não olhamos uma compra, mas sim a qualidade do serviço”, disse ele, respondendo sobre o custo unitário do frete. “Hoje, uma pessoa no Pará pode estar comprando um produto grande e pesado, cujo frete vai custar mais para a gente, mas amanhã pode comprar um produto leve e ir ganhando recorrência”.
Repetindo seu mantra de que “não comenta planos futuros”, Szapiro declinou responder sobre um eventual plano de lançar o Prime, o serviço de assinatura que garante entrega grátis em até 48 horas nos Estados Unidos e que se tornou um dos principais motores de fidelização da companhia.
No Brasil, a Amazon ainda não oferece o ‘fulfilled by Amazon’, a modalidade em que uma mercadoria oferecida por vendedores do marketplace fica em consignação nos warehouses da companhia — que se torna responsável pela logística e entrega, garantindo envio rápido para um grande número de SKUs.
Em outubro de 2017, os rumores de que a Amazon estava entrando em eletrônicos no Brasil fizeram as ações de Magazine Luiza e B2W cair cerca de 20% em uma semana.
Quando o anúncio foi feito — e ficou claro que a empresa operaria apenas no marketplace — os papéis dos concorrentes começaram a se recuperar e, de lá para cá, seus resultados melhoraram.
Agora, o mercado terá que decidir se continua apostando nos times da casa, ou se coloca no preço o terror que o varejo sente quando ouve o nome Jeff Bezos.
RECORDAR É VIVER
Amazon faz estreia ‘lenta, gradual e segura’ em eletrônicos’