Quando entraram em computação e matemática na USP, os irmãos Paulo e Guilherme Silveira tinham um sonho em comum: virar professores universitários e ganhar a vida entre as salas de aula e a produção de artigos.
As coisas não aconteceram exatamente como planejado — mas a educação continuou no centro da vida dos dois.
Em 2004, eles fundaram a Alura, que começou como uma pequena escola de programação que ensinava a meia dúzia de alunos conceitos como open source, agile e a linguagem Java.
Dezesseis anos depois, a Alura é a maior plataforma de ensino de programação do Brasil com mais de 70 mil alunos ativos. A empresa faturou R$ 73 milhões ano passado e espera fechar este ano com receita de R$ 110 milhões e um EBITDA de R$ 55 mi.
“O pessoal de edtech fica falando de ‘marketplace’, ‘plataforma’, e muitas vezes esquece da parte da educação mais tradicional, que tem a ver com paixão, com conexão entre professor e aluno e com a construção de uma comunidade,” o CEO Paulo Silveira disse ao Brazil Journal. “Eu ensinei computação a minha vida inteira e dou aula até hoje. Ainda respondo o email de todos os alunos que me mandam dúvidas.”
Os irmãos Silveira são nerds ‘raiz’.
Guilherme fala cinco idiomas e tem na mágica sua grande paixão (ano passado, ele foi um dos convidados do programa americano Fool Us, apresentado por Alyson Hannigan).
Já Paulo é um viciado em coding e uma personalidade no mundo dos programadores. Ele apresenta o podcast “Hipster.tech”, onde fala de temas ligados à programação e tecnologia, e criou o Guj — o principal fórum de programação do Brasil.
A Alura migrou para o modelo digital em 2013, mas ainda tem duas escolas físicas em São Paulo. Sua plataforma hoje abriga mais de 1.300 cursos que vão de linguagens mais tradicionais como Python e HTML até cursos de data science e machine learning.
Mas onde a Alura mais cresce é no B2B: ela começou a explorar contratos com empresas há cerca de três anos, e hoje o negócio já responde por 50% do faturamento.
A startup desenvolveu, por exemplo, os cursos de clojure e datomic — atenção, dinossauros: essas são duas linguagens — que são dados rotineiramente aos novos funcionários do Nubank. O Banco do Brasil também fechou um contrato grande para disponibilizar cursos de programação para todos os seus funcionários, assim como o Magazine Luiza, a Tivit, o Itaú e a Totvs.
Agora, a Alura está no processo de credenciamento com o MEC para criar uma faculdade que deve abrir as portas (virtuais) até o final do ano. O plano é oferecer três cursos de tecnólogo, uma graduação e três MBAs — de ciência de dados, gerenciamento de produtos e arquitetura de sistema.
A ideia, segundo Paulo, é precificar os cursos de graduação acima de grupos como a Kroton, que cobra na faixa de R$ 250 pelo EAD.
“Vamos ter um tíquete de R$ 500-R$ 600 para ter gordura para entregar uma experiência muito boa. Queremos fazer algo diferente do que existe hoje,” disse o fundador.
Em seus 16 anos de vida, a Alura fez apenas duas rodadas de investimento. Na primeira, em 2016, levantou R$ 40 milhões com a Crescera e a Seek, uma empresa australiana que é dona da Catho no Brasil e investidora na Coursera. No ano passado, os mesmos acionistas colocaram mais dinheiro na empresa, que está sendo usado para M&As.