A Alpargatas voltou a apresentar resultados ruins pelo terceiro trimestre consecutivo, derrubando a ação em cerca de 15% no pregão de hoje.

Desde o início do ano, a empresa já perdeu 45% do valor de mercado.

O foco dos problemas está na operação internacional. Nos Estados Unidos, o volume de vendas caiu 62% no terceiro tri em razão de mudanças no mix de canais e no modelo operacional com a Amazon.

A empresa está enfrentando a concorrência de vendedores não-autorizados na Amazon – e precisou competir por preço para conseguir vender.

“Para a gente destravar esse mix mais rico, precisamos parar de competir por preço na Amazon”, o CEO Roberto Funari disse na conferência com analistas pela manhã.

Funari disse que 2023 ainda será um ano de transição e que a empresa não deve atingir o break-even na operação americana no próximo ano.

Além dos EUA, a China também puxou os números para baixo. A política de covid-zero também prejudicou a receita na maior economia da Ásia, que caiu 24%.

No total, a margem bruta da operação internacional contraiu 10 pontos percentuais para 60%.

Por fim, a Rothy’s – a empresa da qual a Alpargatas comprou 49,9% por R$ 2,5 bilhões no fim de 2021 – também decepcionou.

A marca americana que fabrica calçados feitos de um tecido derivado de garrafa pet deveria ser uma empresa de growth, mas os números contam outra história.

A receita líquida caiu 35% na comparação trimestral. Mesmo na comparação ano contra ano, a receita de US$ 38 milhões é apenas 2% maior do que a registrada em 2021.

“A Alpargatas pagou um múltiplo caro por uma marca bem posicionada e digital. Chega a ser assustador ver uma empresa growth ter queda nas vendas,” diz um gestor comprado em Alpargatas.

Além disso, o EBITDA da Rothy’s ficou negativo em US$ 11 milhões (o resultado já havia sido negativo em US$ 6 milhões no segundo trimestre), com gastos maiores em marketing e na contratação de executivos para tocar a operação.

Na call com os analistas, os executivos da Alpargatas afirmaram que a Rothy’s está tendo uma recuperação e que o quarto tri será “importante” para a marca.

Não à toa, no fim de setembro, a Alpargatas decidiu reestruturar sua área internacional – além de ter trazido Gabriel Aver, um ex-executivo da Ambev, para chefiar a sua divisão industrial.

A Alpargatas também está sofrendo com o aumento dos custos, especialmente o preço da borracha.

Para outro gestor comprado na ação, o momento atual é o mais desafiador desde que a Itaúsa e a Cambuhy compraram o controle da companhia em 2017. “A operação internacional está assustando, ainda que o negócio da Havaianas vá bem,” disse ele.

No Brasil, o volume de vendas caiu 4%, mas a empresa conseguiu elevar a receita repassando custos. A dúvida é até quando esse repasse será possível, dado o poder de compra espremido dos consumidores.

O Bradesco BBI manteve sua recomendação de compra, mas reduzindo o preço-alvo de R$ 31 para R$ 30. Depois da queda de hoje, o papel negocia na faixa de R$ 18,88.

“Achamos que as ações carecem de catalisadores no curto prazo, principalmente com o papel negociando com P/L para 2023 de cerca de 23 vezes.”