A ação da Alpargatas mergulhou 13% depois da empresa reportar um resultado muito fraco em suas operações internacionais e uma boa performance no mercado brasileiro.
A queda das ações foi potencializada por um efeito técnico: há um lote muito grande de opções do papel perto do vencimento e do strike, o que o mercado chama de short gamma.
Para o vencimento de 19 de agosto, a foto hoje mostra 8,8 milhões de opções de compra em aberto, com strike de R$ 22,36 – ontem, a ação havia fechado a R$ 22,38, muito perto desse preço de exercício.
O papel iniciou o dia em queda, o que fez com que o delta da opção – quantos centavos a opção ganha ou perde de valor para cada real que a ação varia – diminuísse, potencializando o movimento vendedor.
Como a aposta na alta do papel está muito grande, o mais provável é que o investidor tenha contratado a operação com vários market makers.
Como os market makers sempre trabalha zerado, quando o papel abriu em baixa, eles tiveram que vender mais papel para hedgear o derivativo e se manter neutros.
A questão em Alpargatas é que a posição era muito grande. Normalmente, Alpargatas PN movimenta, em média, 3,5 milhões de ações a cada pregão.
“Se a opção vai de delta 0,5 para 0,25 por conta de um dia de queda das ações, os market makers teriam que vender 0,25 de 8,8 milhões, o que equivaleria a 2,2 milhões de ações de Alpargatas, ou dois terços do que o papel negocia por dia,” resumiu um gestor.
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No segundo trimestre, a receita de Havaianas Brasil cresceu 18,6%, impulsionada por um aumento de 20,8% na receita por par, enquanto os volumes caíram 1,9%. Já na Havaianas International, os volumes registraram queda de 5,4% – nos EUA, a retração foi de 36%; e na China, de 40%. A receita por par aumentou apenas 3,2% em moeda constante.
Para BofA, o negócio internacional da Alpargatas e a recém adquirida Rothy’s, que teve prejuízo de US$ 9 milhões no trimestre, continuam arrastando para baixo o resultado da empresa.
“O crescimento de preço/mix brasileiro superou bem nossa projeção, assim como a rentabilidade operacional geral no Brasil”, escreveram os analistas Robert Aguilar, Vinicius Pretto e Melissa Byun. “Infelizmente, esses avanços foram mais do que apagados pela performance internacional à medida que a Alpargatas reformula suas operações nos EUA e a Ásia continuou sendo atingida por lockdowns.”
“Quem compra Alpargatas hoje está esperando o crescimento da empresa no mercado internacional, e a empresa não está entregando. É um papel caro e o mercado está ficando cansado”, resumiu um gestor.