Os controladores da Alpargatas não falam muito sobre a empresa, mas seu dinheiro fala por eles. 

Na sexta-feira à noite, Itaúsa e Cambuhy anunciaram que sua participação foi de 20,9% para 25,45% das ações preferenciais (ALPA4), segundo um comunicado à CVM. As duas gestoras controlam a dona das Havaianas com 85% do capital votante (ALPA3). 

As ações da Alpargatas dobraram de valor nos últimos 12 meses e agora negociam na máxima histórica, a cerca de 20 vezes o lucro para 2020. Por volta das 16h15, os papéis sobem 3,5%, com um volume de quase o dobro da média diária.

É provável que os controladores tenham aumentado sua posição no fim de maio, quando um leilão movimentou mais de 20 milhões de ações da Alpargatas, o equivalente a quase 7% das ações PN. De acordo com operadores, o vendedor foi um cliente private do Itaú.

Além dos controladores, a Dynamo também esteve na ponta compradora nos últimos dias. A gestora atingiu 5% dos papéis sem direito a voto na semana passada. É uma posição pequena em relação ao tamanho dos fundos da casa, mas que expressa confiança na companhia, que está sob nova direção desde janeiro. 

Roberto Funari, que já comandou a divisão da América Latina da Reckitt Beckinser (dona de marcas como Veja, Poliflor e Jontex), assumiu como CEO da Alpargatas no início do ano em substituição a Márcio Utsch, que ficou 15 anos na companhia. A meta de Funari é reduzir os custos e despesas administrativas (historicamente maiores que as da concorrência), rearranjar o parque fabril da companhia e acelerar a expansão internacional das Havaianas. 

“É a companhia com um dos maiores ‘matos altos’ do mercado”, resume um gestor.

Dona de uma das marcas mais fortes do País, a Alpargatas vinha sofrendo com a falta de foco por parte dos acionistas controladores, e, para o mercado, o bloco Itaúsa/Cambuhy trouxe um norte de governança. 

Em dez anos, a Alpargatas passou por três mudanças de controle.

Em 2007, foi comprada pelo grupo Camargo Corrêa, onde era pequena em meio ao portfólio de infraestrutura. Em 2015, com as denúncias da Lava-Jato, foi vendida para a J&F, a holding dos irmãos Batista. Com a JBS no foco de denúncias de corrupção, em 2017 a companhia mudou de mãos novamente, dessa vez para o consórcio formado pelos veículos das famílias Villela, Setúbal e Moreira Salles. 

Além do CEO, os novos controladores trocaram também o CFO. Julian Garrido, que já passou pela Sky, General Electric, Saint Gobain e Dow Química, assumiu em setembro do ano passado. José Roberto Daniello assumiu recentemente o cargo de diretor de recursos humanos, depois de mais de uma década na Ambev e AB Inbev.