Animado por um mercado de computadores pessoais que estava bombando, Hélio Rotenberg fundou a Positivo no final dos anos 80 tentando monetizar a oportunidade de uma marca nacional que atendesse as classes B e C, esquecidas pelos gigantes globais.
Deu certo — mas nem tudo foram flores.
Entre 2012 e 2016, o mercado nacional de PCs despencou de 16 milhões de unidades para menos de 5 milhões, obrigando a Positivo a se reinventar.
A companhia entrou em tablets e smartphones, comprou uma fabricante de servidores três anos atrás e, este ano, ganhou uma licitação para fornecer mais de 150 mil urnas eletrônicas ao TSE — o embrião de uma área chamada internamente de ‘projetos especiais’.
Mas neste 2020 que forçou os Homo sapiens a ficar em casa, está cada vez mais claro que a grande opcionalidade da companhia está nos produtos de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), um negócio que a Positivo começou ano passado e cujas vendas de lâmpadas inteligentes, câmeras de segurança, alarmes e sensores conectados explodiram este ano.
O segmento, que a Positivo chama de ‘casa inteligente’, será complementado em breve com uma linha para escritórios.
“Gosto muito desse mercado porque ele abre a possibilidade de prestação de serviços, o que nos permite ter uma margem maior,” Hélio disse ao Brazil Journal.
O mercado de internet das coisas ainda é pequeno no Brasil — perto de US$ 500 milhões este ano — mas vem crescendo num ritmo frenético, impulsionado em parte pela popularização dos chamados assistentes virtuais.
“Ao comprar uma Alexa ou o Google Assistant, o consumidor acaba buscando produtos que potencializam suas funcionalidades,” diz Helio. “Não adianta nada ter a Alexa se você não consegue fazer ela acender a luz ou ligar a TV.”
Em termos de receita, a casa inteligente da Positivo ainda é uma casinha. Dos R$ 2,2 bilhões que o mercado prevê de faturamento para a companhia este ano, cerca de 70% ainda vem dos PCs, 20% dos smartphones e tablets, e os 10% restantes vêm dos produtos de IoT, servidores e projetos especiais.
Helio espera um crescimento expressivo do ‘top line’ para o ano que vem.
O mercado de PC, beneficiado diretamente pela adoção do home office, deve continuar aquecido. “O trabalho não vai ser mais como era antes, vai ser um híbrido, e as pessoas vão ter que renovar seus computadores e ter mais capacidade,” diz o fundador. “Não sei onde vão parar as vendas, mas acho que o mercado de PCs vai estabilizar num patamar bem mais alto do que antes.”
Além disso, a empresa vai começar a reconhecer a receita das urnas eletrônicas — um contrato de três anos que deve render R$ 400 milhões no ano que vem.
A área de projetos especiais começou ano passado quando a Positivo fez um acordo com a Cielo para fabricar 200 mil Lios, aquela maquininha azul e comprida, com design futurista. Há mais projetos no horizonte. No ano que vem, a companhia deve participar da licitação da Caixa para a renovação de seus 48 mil terminais lotéricos.
Em janeiro, a Positivo fez um follow-on a R$ 6,75 por ação que injetou R$ 353 milhões no caixa. Boa parte dos recursos será usada para acelerar essas novas verticais. A oferta diluiu o bloco dos controladores de 70% para 43,8% do capital. A ação negocia hoje por volta de R$ 5,15. A Positivo vale R$ 700 milhões na B3.