Quando começou sua carreira na Ambev, como trainee, Francisco Prisco foi enviado ao Paraguai para liderar as vendas no país. Em apenas 10 meses, a companhia ganhou 20 pontos de market share na capital Assunção, o que mais tarde se mostrou decisivo para convencer a Quilmes a ser vendida.
Um ano depois, Prisco já estava na Guatemala para abrir a primeira fábrica da Ambev no país. Quando ele chegou, tudo era mato.
Agora, a partir de um pequeno escritório na Park Avenue, em Nova York, Prisco comanda uma equipe de 250 pessoas que está criando outro negócio do zero, dentro da Anheuser-Busch InBev (ABI) — a Z.Tech, uma empresa de tecnologia para digitalizar o pequeno varejo, talvez o elo mais valioso da cadeia de distribuição global da maior fabricante de cervejas do mundo.
Toda semana, os vendedores da ABI visitam 6 milhões de clientes em todo o mundo — 800 mil só no Brasil. Além de suas cervejas, a ABI quer oferecer a eles dois novos serviços: um marketplace de produtos de atacado e uma carteira digital.
“É um caminho para uma potencial transformação da companhia, onde além dos produtos ela possa fornecer também serviços a seus clientes,” Prisco disse ao Brazil Journal.
Até 2018 o vp global de trade marketing da ABI, ele passou 45 dias entre Palo Alto e Shenzhen, na China, visitando companhias de tecnologia e entrevistando talentos, antes de começar a Z.Tech.
O primeiro investimento da Z.Tech foi a Menu, um marketplace de alimentos, bebidas e produtos de limpeza que funciona como uma espécie de atacado virtual.
Os pequenos varejistas podem repor seu estoque comprando dos 40 grandes fornecedores que já estão na plataforma — como BRF, Pernod Ricard e Unilever —, comparando preços e recebendo tudo de uma única vez. (Um pequeno comerciante tipicamente tem que lidar com 24 fornecedores diferentes ao longo do mês.)
A ABI já levou a plataforma para o México e está finalizando a expansão para a Colômbia. (Nos países de língua espanhola, a Menu atende por ‘MiMercado’).
O outro investimento é a Donus, uma carteira digital criada dentro da Z.Tech que permite ao varejista receber o pagamento dos clientes direto no aplicativo (por meio de uma integração com as maquininhas da Cielo), além de usar o dinheiro para pagar contas ou fazer transferências peer to peer.
Mais de 30% dos pequenos varejistas brasileiros não têm conta em banco e outros 40% não possuem cartão de crédito ou débito, segundo Prisco. O foco é atender esse nicho.
Até o final do ano, a Z.Tech espera vender suas soluções para 100 mil clientes da Ambev — 12,5% dos clientes da empresa — e transacionar R$ 220 milhões, o equivalente a menos de dois dias de faturamento líquido da Ambev.
Com apenas um ano de vida, a startup ainda é minúscula e está longe de mudar qualquer coisa no faturamento da ABI ou nas dinâmicas desfavoráveis de mercado que a companhia enfrenta. Mas a tentativa de otimizar um dos mais potentes canais de venda do mundo mostra que a ABI percebeu que, tanto quanto suas marcas, sua capilaridade global é seu maior ativo.
Um dos planos em estudo, por exemplo, é fazer a distribuição de energia limpa para os pontos de venda.
O dinossauro acordou.
ARQUIVO BJ
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