A Simpar acaba de anunciar que vendeu a Ciclus Ambiental, seu negócio de tratamento de resíduos, para a Aegea, numa transação que vai ajudar a holding dona da Movida, JSL, Vamos e Automob a reduzir sua dívida.
A venda saiu a um equity value de R$ 1,1 bilhão, mas o ativo também carrega uma dívida de cerca de R$ 800 milhões, somando um enterprise value de R$ 1,9 bi.
A transação será paga 80% à vista e o restante em duas parcelas, uma em seis e a outra em 18 meses, corrigidas pelo CDI.
A Ciclus, que atende a cidade do Rio de Janeiro, é o maior centro de tratamento de resíduos do Brasil e um dos cinco maiores da América Latina, recebendo mais de 400 caminhões com 10 mil toneladas de lixo todos os dias.
Além de recolher os resíduos, o aterro tem uma planta que transforma esse lixo em biometano, no mesmo modelo da Orizon. Para se ter uma ideia, mais de 60% de todo o biometano de resíduos produzido no Brasil vem deste aterro.
A Simpar ganhou a concessão há 15 anos e desenvolveu todo o aterro e as plantas de biometano do zero.
A decisão de vender teve a ver com o plano estratégico da companhia de zerar sua dívida da holding e focar num ecossistema de empresas que tenha mais sinergia entre elas, o controlador e CEO da Simpar, Fernando Simões, disse ao Brazil Journal.
“A Simpar está entrando num novo ciclo de tirar mais sinergias dos negócios, otimizar recursos buscando eficiência operacional e gerar mais valor para os acionistas,” disse o CEO.
Simões disse ainda que a venda é importante para destravar o valor da ação, já que a Ciclus é um ativo não-listado e que não estava sendo precificado pelos investidores. “O mercado só olha o que temos listado, mas não vê a qualidade dos ativos que não estão na Bolsa,” disse ele. “Essa venda mostra as oportunidades que existem dentro do nosso ecossistema.”
A venda também vai ajudar a Simpar a zerar sua dívida nos próximos anos. No primeiro tri, a dívida bruta da holding fechou em R$ 6,5 bi e a dívida líquida em R$ 3 bilhões.
Já na alavancagem consolidada do grupo, que inclui todas as dívidas das subsidiárias, não haverá impacto material. A dívida consolidada fechou o primeiro tri em mais de R$ 40 bilhões, com uma alavancagem de 3,6x EBITDA.
Para a Aegea, o investimento marca seu segundo movimento no mercado de aterros. No ano passado, a companhia ganhou uma concessão pequena para operar um aterro em Cravos, no Ceará, numa região onde ela também presta serviços de água e esgoto.
“Essa aquisição é um passo importante na nossa estratégia de crescer no setor. Vamos conseguir ter o know how deles e acelerar nossa curva de aprendizado no setor, com a metodologia e um corpo técnico muito qualificado,” o CEO da Aegea, Radamés Casseb, disse ao Brazil Journal.
Há ainda uma sinergia geográfica importante. Depois de vencer o leilão da Cedae em 2021, a Aegea hoje opera boa parte do serviço de saneamento da cidade do Rio de Janeiro, além de outros 26 municípios do entorno.
Ao operar o esgoto e o aterro na mesma região, é possível ter um ganho relevante na gestão do chorume, o líquido que sobra do lixo do aterro e que precisa ser destinado para uma estação de tratamento de esgoto específica.
“A gestão do chorume tem um peso muito grande nos custos de um aterro, é uns 50% do custo total. Como somos nós que operamos a estação de tratamento, tem essa sinergia de custo grande que vamos ter por operar verticalizado,” disse ele.
O CEO da Aegea disse ainda que vê muita oportunidade de ampliação dos serviços da Ciclus para outros municípios da região metropolitana do Rio, e também para empresas.
O aterro tem hoje uma área de 3,7 milhões de metros quadrados, e boa parte dela ainda não está sendo utilizada.
Segundo Casseb, a área de crescimento tem capacidade para atender toda a região metropolitana por mais 60 anos. “Vamos buscar expandir nossa atuação com as indústrias que querem garantir a destinação correta de seus resíduos, e vamos estar atentos também a novas concessões na região,” disse.
Sobre o preço da aquisição, Radamés disse que — nas contas da empresa e considerando apenas a evolução da performance e ganhos de escala, sem as ampliações — o valor pago permite alcançar um retorno equivalente ao que a empresa tem entregado nas operações de água e esgoto, algo em torno de IPCA + 15% a 20%.
A transação terá um impacto pequeno na alavancagem da Aegea, elevando o número de 3,17x EBITDA para 3,32x, segundo a companhia. A Agea planeja financiar 70% do R$ 1,1 bi, e pagar o restante com caixa.
A Simpar também é dona de uma subsidiária, a CS Brasil, que é dona de um aterro sanitário e da coleta de lixo em Belém. Segundo pessoas a par do assunto, a empresa está organizando um processo para vender esse ativo também.
O BTG Pactual assessorou a Simpar.
A Aegea não teve assessores.