Um mês depois de zerar sua posição no Fleury, a Advent anunciou hoje uma oferta secundária de ações para vender sua participação na rede de restaurantes IMC, dona das marcas Frango Assado, Viena, Brunella, Batata Inglesa e Olive Garden.
A Advent, que é dona de 43% do capital da IMC, quer vender pelo menos 77% de sua posição numa oferta coordenada por BTG, Credit Suisse e Itaú BBA. Dependendo do apetite dos investidores, a gestora pode vender toda sua participação.
Após anos de resultados decepcionantes, a IMC começou a entrar nos trilhos este ano, num movimento que deve ganhar força em 2018 com a retomada do consumo.
A leitura do mercado foi que a Advent está deixando dinheiro na mesa para se isolar do risco eleitoral do ano que vem.
“A grande pergunta é: por que eles estão saindo agora que a empresa está enxuta, com direcionamento claro e o macro começou a jogar a favor?”, questiona um gestor comprado no papel. “Acho que o mercado até topar levar esse risco eleitoral, mas com um belo desconto”.
A ação da IMC, que já dobrou de valor este ano, reagiu com moderação ao anúncio, caindo 3,3% – em linha com outros nomes do varejo. A oferta deve transformar a empresa, que tem um valor de mercado de R$ 1,7 bilhão, num papel bem mais líquido. A valores de hoje, a operação aumentaria o free float em até R$ 700 milhões.
As reuniões com investidores começaram hoje em São Paulo, e a operação vai ser precificada no próximo dia 9. O roadshow começa pelo Brasil e vai ao exterior semana que vem.
A IMC está sendo negociada a um múltiplo entre 9 vezes EV/EBITDA para 2018 e 7,5 vezes para 2019. Para efeito de comparação, a mexicana Alsea, que tem um negócio comparável, negocia a 9,2 e 8,2 vezes, respectivamente.
A saída da Advent também levanta a dúvida sobre quem será o acionista de referência da empresa depois do desembarque da gestora.
O CEO Newton Maia, que assumiu o cargo em janeiro para executar o turnaround, deve permanecer no cargo. “Essa é a boa notícia. Se o Newton fosse sair, o papel estava despencando”, diz um investidor. Maia é um ex-executivo da Advent.
Depois da Advent, o maior acionista da empresa é a UV Gestora, um family office que administra a liquidez dos herdeiros do falecido banqueiro Gastão Vidigal, do Banco Mercantil de São Paulo. A UV tem 7% da empresa.
A IMC foi um caso clássico de consolidação em que a soma terminou menor do que as partes. Com o dinheiro do IPO, a empresa fez uma série de aquisições no Brasil e no exterior que não geraram sinergia entre si.
A ação, que chegou a bater os R$ 24 em 2013, derreteu e chegou a menos de R$ 4 em 2015 – quando a Advent foi forçada a fazer um aumento de capital na bacia das almas para controlar o endividamento.
De lá para cá, a empresa encolheu: vendeu marcas e fechou lojas.
No início deste ano, sob a batuta de Maia, a IMC finalmente começou a integrar processos entre suas diversas marcas. Viena e Brunella, por exemplo, passaram a ter uma única cozinha central, e as compras das diversas bandeiras passaram a ser feitas de forma centralizada, reduzindo sobreposições e aumentando o poder de negociação com os fornecedores.
No terceiro trimestre, divulgado semana passada, as vendas no conceito ‘mesmas lojas’ subiram 2,2%, contra uma queda de 9% no mesmo período de 2016, e a margem EBITDA cresceu 3,3 pontos percentuais para 13,4%.
Depois do resultado, o sellside começou a promover o papel, o que já deixou investidores em alerta de que uma oferta poderia estar a caminho.
BTG Pactual e Itaú reiteraram a recomendação de compra, e o Credit Suisse aumentou o preço-alvo de R$ 14 para R$ 15. A ação fechou hoje a R$ 10,40.
Além do Fleury e da IMC, a Advent já sinalizou que deve vender ao menos parte de suas ações na varejista Restoque, dona da Le Lis Blanc. A gestora tem 23,7% do negócio e deve ser vendedora, ao lado do Warbug Pincus, que tem 23,9%, numa oferta ainda sem data marcada.