A Aberdeen Standard Investments — um dos maiores investidores da Petrobras — enviou uma carta ao conselho de administração da estatal alertando para os prejuízos que a interferência do Governo podem causar à companhia.

Os fundos da Aberdeen têm cerca de 67,3 milhões de ações PN da Petrobrás, o equivalente a 0,5% do capital.  No total, a gestora tem cerca de US$ 4 bilhões investidos no Brasil entre renda fixa e variável.

Na carta, obtida pelo Brazil Journal, a Aberdeen diz que “mudanças no corpo de executivos atual da companhia, sem um devido racional e rigoroso processo, serão tomadas como negativas,” e que “decisões sobre a nomeação ou substituição de executivos devem ser de exclusiva responsabilidade do conselho de administração da companhia, com ativa participação dos membros independentes, passando por uma análise objetiva de qualificações, em consonância com melhores práticas.”

A carta não faz menção nominal ao indicado, General Silva e Luna, nem se a gestora acredita que ele possui as qualificações necessárias.

A Aberdeen diz que a administração da companhia precisa garantir, “acima de tudo, que a paridade de preços de importação prevaleça na política de preços de combustível da companhia como princípio fundamental.”

A carta é assinada pelo head global de ações da Aberdeen, Devan Kaloo, e pelo principal executivo da gestora no Brasil, Eduardo Figueiredo.

Conhecida por investimentos de longo prazo, a Aberdeen diz que era acionista da Petrobrás “quando a empresa era gerida de forma contrária a esse principio,” e que “o retorno ao passado seria um revés na trajetória de reconstrução de credibilidade da companhia e melhora de governança observada nos últimos anos, colocando em risco não apenas a estratégia atual da companhia, mas também todos os esforços do País em atrair investimentos privados para o desenvolvimento da indústria de óleo e gás e sua cadeia de valor.”

Segundo a Aberdeen, desviar do rumo em que a empresa estava sendo conduzida colocaria em risco a reconstrução da credibilidade junto à comunidade de investidores, “com impactos negativos não apenas para a Petrobrás como também para ativos brasileiros de maneira mais ampla.”

A gestora disse que vai acompanhar o desenrolar da novela e que apoia o conselho “no cumprimento de sua atribuição de proteger a empresa de interferências indevidas.”

Figueiredo, o chief investment officer da Aberdeen no Brasil, conversou com o Brazil Journal:

“Não tomamos a iniciativa de publicar esta carta, mas já que ela veio a público, vamos lá: a Aberdeen é um gestor de ativos em países emergentes e investe no Brasil há muito tempo. Somos acionistas de longo prazo de empresas como Bradesco, Lojas Renner e Vale. 

Vemos este evento na Petrobras de maneira negativa não só para a empresa como para o mercado de maneira mais ampla. Isso vai muito além da Petrobras. Esse evento vai dar um tom de qual é a credibilidade do Governo e quão propício é o ambiente do Brasil para investimentos.  

O trabalho que vinha sendo feito é muito bom. Ao investir em estatais, a gente tem plena consciência dos riscos, mas mesmo assim a reforma da Lei das Estatais e a forma como a Petrobras vinha sendo conduzida era muito positiva. Achávamos que não haveria volta ao passado. 

O conselho tem que ter total autonomia para tomar a melhor decisão para a empresa. Se esta decisão for reconduzir o Castello Branco — e sem fazer nenhum julgamento quanto ao novo nome —  o conselho precisa ter esta autonomia. Nos parece que uma disrupção num corpo de executivos que estava fazendo um bom trabalho é contraproducente.”