Há mais de cem anos, o mercado de importação e exportação é dominado pelo complexo conhecido como ABCD – as americanas Archer Daniels Midland (ADM), Bunge, Cargill e a francesa Louis Dreyfus.
A brasileira Timbro sabe que tentar fazer parte desse grupo é algo praticamente impossível – ADM e Cargill, por exemplo, faturaram mais de US$ 100 bilhões no ano passado – mas decidiu copiar o que as gigantes vêm fazendo há anos, especialmente a verticalização.
Fundada em 2010 por Jorge Guinle e Bruno Russo, dois executivos que trabalharam a vida inteira em tradings, a Timbro ganhou corpo durante a pandemia.
Com o aumento dos preços e da demanda por alimentos e commodities como o minério, a trading viu seu faturamento disparar. A receita pulou de R$ 2,5 bilhões em 2019 para R$ 12 bilhões no ano passado.
Com essa receita, ela divide a segunda posição entre as tradings nacionais com a Sertrading, comprada recentemente pelo BTG Pactual. A líder entre as nacionais é a Comexport, que faturou R$ 17,7 bilhões no ano passado. (Para efeito de comparação, a Cargill, a líder absoluta do setor, faturou R$ 100 bi.)
Guinle e Russo se conheceram há quase duas décadas na SAB Trading – que pertencia à mãe de Guinle e onde Russo começou como estagiário.
(Os Guinle têm atuação no setor desde o Império, quando receberam a concessão para construir e administrar o Porto de Santos em 1888.)
Os dois executivos saíram da SAB Trading quando ela foi vendida. Três anos depois, se reencontraram e decidiram criar a Timbro.
Nos últimos anos, a empresa se consolidou como a maior exportadora brasileira de açúcar – excluindo da conta as empresas verticalizadas, que possuem usinas próprias – com 1 milhão de toneladas exportadas em 2023.
Hoje o açúcar responde por 30% do faturamento da Timbro, e o próximo passo da empresa é crescer no etanol. (No início do ano, a empresa comprou uma microdestilaria no Rio Grande do Sul.)
“Queremos crescer nesse mercado para que os clientes nos vejam como um one-stop shop,” Guinle disse ao Brazil Journal.
Em busca de melhores margens, a trading também está começando a explorar marcas próprias.
Assim como a Cargill e a Bunge, que além de exportar soja também possuem marcas para o consumidor final, a Timbro comprou 70% da Dinda Foods, que é forte em Angola em proteína animal e produtos da cesta básica, como arroz e massas.
Com um portfólio de 20 produtos, a Dinda deve faturar US$ 55 milhões este ano e US$ 100 milhões ano que vem, segundo os sócios. Eles planejam levar a Dinda para o restante do continente africano e, depois, Ásia e Oriente Médio.
Apesar das commodities representarem 70% de seu faturamento, a Timbro está bem de olho no potencial da importação, que representa os outros 30%.
A empresa aproveita o contato que tem com grandes nomes do agro para vender de jatos executivos e aviões monomotores até aeronaves agrícolas – e com isso se tornou uma das maiores importadoras do setor, importando aeronaves da Gulfstream, Cessna, Bombardier e Cirrus, esta última com importação exclusiva.
Somente no primeiro semestre, a empresa faturou R$ 804 milhões com a venda de jatos.
Mas a grande aposta da Timbro para este ano é a importação de carros. Não por acaso, a empresa investiu R$ 25 milhões e criou um centro automotivo com área alfandegada em Cariacica, no Espírito Santo. O principal cliente? A montadora chinesa BYD.
Russo, o outro fundador, projeta que essa operação sozinha pode representar 20% da receita da Timbro no próximo ano. Neste primeiro trimestre, a participação foi de 11,7% – ou R$ 925 milhões.
“Nossa estratégia é ser uma grande plataforma de negócios,” disse Russo. “Somos diversificados e queremos verticalizar o máximo possível.”
O próximo passo da Timbro, segundo Guinle, será aumentar a participação no exterior. Os sócios pensam em adquirir tradings na Europa e estão analisando cinco oportunidades de M&A. Apesar de estar de olho em tradings puras, o foco na verticalização vai continuar para os próximos anos.
“Ao verticalizar o negócio, nós temos a certeza da qualidade do serviço e do processo ao longo do caminho. É um diferencial nosso frente à maioria das empresas do setor,” disse Guinle.