O artista plástico Vik Muniz morou muitos anos em Nova Iorque e, de volta ao Brasil, foi morar no Rio de Janeiro. Em 2018, se apaixonou por Salvador e ali comprou um sobrado colorido, do século 19, no meio do bairro do Carmo.

Agora, Vik se dedica a um novo projeto: abrir no próximo dia 18 uma galeria para a democratização da arte, batizada de Lugar Comum, na Feira de São Joaquim, a maior feira livre da cidade, com cerca de 34 mil m². A primeira exposição será do artista Ernesto Neto, que produziu suas obras a partir dos materiais disponíveis na própria feira.

É um bom exemplo de que nem só do eixo Rio-São Paulo vivem as galerias de arte do País. Outras cidades brasileiras contam com espaços tradicionais e um circuito bastante ativo, e Salvador talvez seja a maior delas. Durante a pandemia, o turismo interno cresceu e o roteiro cultural da cidade está interessantíssimo.

Os dois espaços mais tradicionais de Salvador são a Galeria Roberto Alban e a Paulo Darzé Galeria de Arte.

A Roberto Alban – no meio do Circuito Dodô do Carnaval, que termina nas ruas de Ondina em um prédio de 1.500 m² – abre esta semana uma exposição do artista carioca Raul Mourão.  Intitulada “O menor carnaval do mundo”, será inaugurada dia 9 e fica em exibição até 5 de fevereiro.

A Paulo Darzé, situada no Corredor da Vitória, região que abriga outras importantes instituições culturais baianas, está no mercado há mais de três décadas e tem um acervo repleto de artistas modernos consagrados nacionalmente.

Mas a galeria jovem mais interessante da cidade é a RV Cultura e Arte, que fica no Rio Vermelho (onde acontece a tradicional festa de Iemanjá) e representa artistas locais e outros nacionais emergentes. Aliás, uma dica valiosa de um artista baiano, representado pela RV – que já começou a despontar e foi muito falado na última Art Rio – é Pedro Marighella.

Pedro tem 42 anos, estudou artes plásticas na Escola de Belas Artes – UFBA, e desenvolve projetos em artes visuais, design e música.  Já integra o acervo permanente do MASP, com trabalho comissionado para a exposição História da Dança e do Museu Afro, em São Paulo. Sua obra plástica pesquisa o cenário musical da Bahia, desde capas de discos antigos até o carnaval de rua, sempre explorando o potencial crítico da diversão.

Vale também a visita à Casa Boqueirão, no Santo Antônio Além do Carmo, uma loja-conceito que traz o melhor da arte, design e moda da Bahia, como também ao tradicional MAM-BA. A exposição em cartaz, ‘O Museu de Dona Lina’, marca a reabertura do museu depois de 18 meses, e faz homenagem à sua primeira diretora, a arquiteta Lina Bo Bardi.

O Acervo do MAM é composto por obras de artistas contemporâneos baianos, como Mario Cravo Neto e Marepe, e modernistas renomados como Tarsila do Amaral e Candido Portinari.

Para os cinéfilos, Salvador oferece há 17 anos o tradicional Festival Panorama de Cinema, que acontece anualmente no Glauber Rocha, o icônico cinema na Praça Castro Alves que exibe o cinema cult baiano e brasileiro. Aliás, o espaço foi enriquecido agora com a abertura do Sebo Galáxias, do poeta James Martins.

Outra novidade é a reinauguração do Casarão dos Azulejos Azuis – que virou a Cidade da Música da Bahia. Próximo a ‘cartões postais’ da cidade, como o Elevador Lacerda e o Mercado Modelo, a construção da década de 1850 foi totalmente restaurada e oferece uma experiência musical (MPB, samba-reggae, rock, pagode e axé) completa, distribuída em quatro pavimentos totalmente recuperados do edifício histórico.

Por fim, como em outros estados, a briga pelo tombamento e preservação do patrimônio histórico está quente na primeira capital do Brasil.

O Prédio Quinta do Tanque, atual sede do Arquivo Público do Estado da Bahia, foi construído para ser a casa de repouso dos jesuítas no século XVIII, e o local onde o Padre Antônio Vieira escreveu muitos dos seus sermões e cartas.

Agora, corre o risco de ser leiloado.

É a segunda maior instituição arquivística do país e está entre as maiores do mundo, com mais de 40 milhões de documentos, que contam a história do estado e do País.

Agora é fazer as malas e curtir a música, a comida, enquanto se aprecia o valor histórico e cultural da Bahia.