Quem já esteve a bordo em uma regata sabe: não há muito tempo para hesitação. O vento muda, o adversário manobra, a corrente vira. E a janela para reagir costuma ser curta. Muito curta. Em algumas situações, se você esperar mais dois ou três segundos, a decisão já não serve mais.

Esse tipo de ambiente – onde as variáveis são instáveis, a margem de erro é mínima e a resposta precisa ser ágil – se parece muito com o que enfrentamos no mercado. Tomar decisões com base em dados incompletos, antecipar movimentos de cenário, ajustar rota no meio da execução… a dinâmica é praticamente a mesma.

Velejo há mais de 20 anos e já perdi a conta de quantas vezes aprendi – ou reaprendi – esse princípio na prática. Não se trata de romantismo náutico. Trata-se de reconhecer que, em momentos críticos, a capacidade de leitura e resposta vale mais do que qualquer planejamento feito em terra firme.

Há ainda a quantidade de microdecisões que ninguém vê: apertar um cabo, tirar peso de um lado, antecipar uma manobra que talvez nem aconteça. No fim, é isso que segura o barco. 

É a soma de pequenas escolhas que ninguém quer fazer porque parecem simples demais. O mercado também funciona assim: os erros que afundam não são sempre espetaculares.

Costumo dizer que não existe plano que sobreviva ileso ao vento real. No papel, o traçado é limpo. Mas no mar (e no mercado) entra o fator humano, entra o ruído, a realidade. E é aí que a diferença acontece: quem consegue manter clareza de raciocínio sob pressão reage melhor. E quem reage melhor tende a preservar o barco — e o patrimônio.

Tem também um outro ponto importante, menos abordado: ninguém vence regata sozinho. Velejar exige coordenação fina entre quem está no leme, quem regula a vela, quem dá o contrapeso.

Cada decisão depende de uma escuta atenta e de um entendimento compartilhado do que está por vir. No mercado, isso significa construir times que funcionem bem mesmo em meio à incerteza, com confiança mútua, comunicação objetiva e pouca vaidade.

Muita gente associa sucesso à chegada em primeiro lugar. Mas depois de algumas regatas e muitos ciclos de mercado, você aprende a valorizar outra métrica: cruzar a linha de chegada inteiro. Terminar bem é o que importa. Principalmente quando o percurso foi adverso.

Algumas das partes mais difíceis da vela são também as menos emocionantes, como por exemplo quando o vento some e não há muito o que fazer além de esperar.

Ninguém gosta desse trecho. Mas é ali que você aprende a segurar o barco sem perder o rumo. A ansiedade atrapalha mais que a correnteza. E o exagero de ação, nesses momentos, costuma custar caro. Quem tenta resolver tudo no grito normalmente está tentando esconder que não sabe o que fazer em silêncio.

A lógica do velejador não é sobre velocidade a qualquer custo. É sobre saber quando acelerar, quando segurar, quando ajustar a vela e, acima de tudo, quando mudar de bordo.

Não dá para evitar o imprevisto, mas dá para estar pronto para ele – e isso já faz toda a diferença.

Morris Dayan é diretor executivo do Banco Daycoval.