A Tembici — a empresa de micromobilidade que opera as bikes compartilhadas do Itaú — acaba de fechar uma rodada de US$ 80 milhões (R$ 420 milhões, ao câmbio de hoje) que vai financiar um plano para dobrar o tamanho da empresa nos próximos 12 meses.
A rodada Série C foi liderada pela Crescera Capital e teve a participação do Pipo Capital, um fundo de venture capital brasileiro, e do Endeavor Catalyst.
A maior parte do investimento de hoje é em forma de equity, mas há também um componente de dívida estruturado pelo Itaú e Santander. No caso do Santander, a Tembici emitiu uma debênture verde de R$ 29 milhões.
A rodada vem num momento em que Tembici vivencia um rebound operacional expressivo.
Depois de ver a utilização de suas bikes despencar no auge da pandemia, o uso das bicicletas já está 50% maior que no pré-covid — com um aumento significativo do uso para as entregas de apps de delivery (10x mais em relação a março de 2020).
A empresa também teve um aumento importante na rentabilidade, com a margem bruta chegando a 60% e a empresa atingindo o breakeven, o fundador Tomás Martins disse ao Brazil Journal.
“A margem subiu porque nossa receita cresceu ao mesmo tempo em que os custos melhoraram e conseguimos diminuir as perdas de bikes,” disse ele. “Também nacionalizamos a produção de muitas peças, o que tirou a variação cambial da equação.”
Tomás disse que o nível de perdas da empresa é de 0,15% — bem abaixo do benchmark global do setor, que gira em torno de 1%.
A Tembici espera chegar em dezembro com um run rate de R$ 180 milhões, em comparação aos R$ 100 milhões de faturamento anualizado que ela tinha no pré-pandemia.
Depois de arrumar a casa, a Tembici vai começar a executar seu plano de expansão.
A empresa — que tem 16 mil bicicletas em operação — quer colocar “pelo menos” mais 10 mil bikes nas ruas nos próximos 12 meses.
Para isso, vai entrar em três novas metrópoles — Brasília, Cidade do México e Bogotá — e aumentar a penetração de suas bikes nas cidades onde já está presente.
Tomás diz que há um gap entre o número de bikes compartilhadas no Brasil e em outros países que são referência em mobilidade. “Em São Paulo, por exemplo, temos apenas 3 mil bicicletas, em comparação às mais de 15 mil que o Citi tem em Nova York,” disse o fundador.
Das 10 mil novas bikes, mais da metade serão elétricas — um tipo de bicicleta que custa mais caro que as tradicionais mas que tem um giro maior, e um preço também superior.
A receita da bike elétrica tem se mostrado 30% maior, mas essa diferença pode chegar a 50% quando o usuário de mobilidade (quem usa a bike para ir trabalhar ou em percursos mais longos) voltar de fato a usar a plataforma. “E o custo de produção só é 10% maior, então o delta desse negócio é muito interessante,” disse o fundador.
A Tembici também vai investir em marketing para aumentar o número de usuários ativos na plataforma. Hoje a startup tem mais de 300 mil usuários que fizeram pelo menos uma viagem no último mês, e espera dobrar esse número até o final do ano que vem.
A Tembici é a última sobrevivente de um mercado que viu um boom de concorrência nos últimos anos — mas que depois evaporou na mesma velocidade.
Com o fechamento das empresas de bikes e patinetes ‘dockless’ (leia-se Yellow e Grin), a Tembici é hoje o único player de micromobilidade da América Latina.
“Isso traz uma vantagem — mostra que temos o modelo vencedor — mas também cria um desafio: temos que representar sozinhos todo o segmento,” disse ele.
O investimento de hoje é o primeiro do Crescera Venture Fund III, que acaba de fazer um first closing de R$ 300 milhões e espera captar mais pelo menos R$ 200 milhões nos próximos meses.