O Nubank alterou o rendimento automático de sua conta digital e lançou uma nova ferramenta de investimentos – duas medidas que ajudarão o banco a reduzir seu custo de funding no médio prazo.  

A partir de agora, os novos depósitos realizados nas contas do Nu continuarão a ser remunerados a 100% do CDI, mas a remuneração vai incidir apenas a partir do 30º dia, de forma retroativa. 

No modelo que vigorava antes – e que permanecerá válido para os recursos que já estiverem nas contas –  a remuneração de 100% do CDI era diária. Com a alteração, na prática o Nubank deixa de ter custos de funding em depósitos sacados antes de 30 dias. 

Ao mesmo tempo em que anunciou essa alteração, o banco roxo divulgou uma nova ferramenta de planejamento financeiro em seu app, que chamou de “caixinhas”. 

As “caixinhas” permitem aos clientes distribuir seus recursos entre diferentes objetivos: reserva de emergência, viagem, reforma da casa ou qualquer meta pessoal – os usuários poderão personalizá-las.  

Para o dinheiro que estiver na “caixinha”, o Nu vai oferecer  investimentos diferentes em função dos prazos e objetivos. 

Nas “caixinhas”,  o dinheiro vai continuar rendendo diariamente, diferentemente do que vai passar a acontecer com os recursos que estiverem na conta – provavelmente um incentivo para que o depositante revele seus planos, aumentando o conhecimento do Nu sobre o cliente. 

Desta forma, as “caixinhas” reduzirão o custo de funding  ao atrair um dinheiro que ficava parado na conta para um produto de investimento do banco; a expectativa é de que o Nu também aumente sua oferta de produtos. 

Para o Itaú BBA,  a otimização dos custos de funding é essencial para o Nubank, que quer competir com grandes bancos nas carteiras de crédito de varejo menos arriscadas. O analista Pedro Leduc estima um aumento potencial de cerca de 15% para o lucro líquido do Nubank em 2026 se a adoção das ferramentas tiver sucesso. 

O analista estima que entre 40% e 50% dos depósitos a prazo do Nubank sejam resgatados em menos de 30 dias. 

Para ele, o principal risco a ser monitorado é se o cliente vai ficar insatisfeito com a mudança na remuneração, já que “o rendimento diário de 100% do CDI para os depósitos a prazo foi fundamental para o Nubank atrair seus clientes,” escreveu Pedro, ponderando que a redução dos rendimentos pode levar a perdas de depósitos e engajamento. 

Para o BTG, a mudança não vai gerar ruído com os clientes, já que quando os depósitos são sacados em 30 dias, a incidência de IOF é elevada – varia de  96% a 3% conforme o tempo.

Os analistas Eduardo Rosman e Ricardo Buchpiguel acham que as medidas podem ser o pontapé inicial para o Nubank ampliar sua penetração em produtos de investimento, ao mesmo tempo em que reduz o custo de funding. 

O BTG estima que uma redução de 10 pontos percentuais no valor que o Nu gasta com a remuneração diária dos depósitos poderia gerar um ganho antes de impostos de US$ 250 milhões, ou 15% do lucro bruto estimado para o Nu este ano. 

As “caixinhas” serão acessadas primeiro por um grupo seleto de clientes e devem ser liberadas para toda a base até setembro.