A Pier — uma insurtech que vende seguros para smartphones e automóveis — acaba de levantar US$ 20 milhões numa rodada que vai permitir trocar sua licença experimental por uma definitiva, ampliando a oferta de produtos e a base de clientes. 

11647 dc5f8fd2 6e3c add8 f567 59359c693a1bA captação foi liderada pela Raiz Investimentos, o family office de Ivan Toledo, que fundou e depois vendeu a Sem Parar por R$ 4 bilhões em 2016. Ivan também terá um assento no conselho da startup. 

A rodada vem exatamente um ano depois da Pier levantar US$ 14,5 mi num Series A com a Canary, Monashees, BTG e Mercado Livre. Todos os investidores estão acompanhando a nova rodada.  

Fundada em 2018, a Pier começou com um seguro para smartphones apostando no uso intensivo de dados e na inteligência artificial para reduzir as fricções na experiência do cliente e melhorar a precificação.

Há pouco mais de um ano, ela entrou também no seguro auto com um produto básico que cobre roubo, perda total e assistência técnica — e limitado a carros de até R$ 70 mil. (O produto compete, por exemplo, com a Blue, a marca de combate da Porto Seguro). 

Igor Mascarenhas, o cofundador e CEO da Pier, disse ao Brazil Journal que a seguradora tem dois grandes diferenciais: uma experiência descomplicada e sem burocracia; e o preço, que no caso do seguro auto é em média 30% mais barato que os peers. 

Segundo ele, a Pier consegue reduzir o preço “porque nosso SG&A é quase metade do de uma seguradora incumbente, proporcionalmente, e não temos o custo de distribuição, já que 100% das nossas vendas são digitais.”

“Além disso, nossa taxa de sinistralidade no seguro auto é em torno de 60% — em linha com o mercado. Tudo isso faz com que a gente tenha uma margem bruta maior, que repassamos para o cliente.” 

Parte do segredo está no algoritmo de precificação. 

Igor diz que a Pier usa 300x mais informações que os incumbentes na decisão de pricing — apesar de ser a empresa que menos pede informações ao cliente no processo de onboarding. 

“Pedimos dados básicos como CPF e placa do veículo, mas analisamos todo o comportamento dele — a hora que entrou no site, quanto tempo ficou em cada tela, o tamanho da tela do celular dele… depois que ele contrata o seguro, vamos acompanhar todo o comportamento dele no trânsito.”

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A Pier está entrando num mercado dominado por gigantes como Porto Seguro e Bradesco, cujas marcas inspiram confiança e que possuem um histórico de muitas décadas. (A maior preocupação do cliente no final das contas é receber seu dinheiro quando tiver algum problema.) 

Igor diz que a Pier tem uma reserva técnica muito maior do que a exigida pela Susep e que “não adianta nada ter um balanço super robusto e ter uma burocracia gigantesca na hora de pagar o sinistro — deixando, muitas vezes, o cliente na mão.”

O fundador se orgulha de ter feito o que ele diz ser o pagamento mais rápido de um sinistro do mundo: em 1 segundo, em comparação ao recorde anterior da americana Lemonade, de 3 segundos. (A Pier já está em contato com o Guinness para reivindicar o recorde).  

A Pier opera como seguradora digital dentro do chamado ‘sandbox regulatório’, uma licença experimental da Susep que impõe limitações à operação. Por exemplo, a Pier só pode segurar carros de valor até R$ 100 mil e não pode cobrir danos a terceiros. 

Parte dos recursos da rodada serão usados para fortalecer o balanço e facilitar a migração da startup para a licença definitiva. 

Isso é um ‘game changer’ porque, além de permitir lançar novos produtos, libera espaço para a Pier crescer de forma mais agressiva sua base de clientes, diz o fundador.

No sandbox, o capital de risco exigido é de cerca de 45% do valor do prêmio recebido nos últimos doze meses; na licença definitiva, esse percentual cai para 30%.  

“Isso impacta diretamente a reserva técnica que precisamos ter, porque essa reserva é o maior valor entre o capital de risco e o capital mínimo exigido, que é de R$ 1 milhão no sandbox e de R$ 8 mi na licença definitiva,” diz Igor. 

A Pier teve uma receita de R$ 11 milhões ano passado e espera fechar este ano com faturamento de R$ 30 milhões. Em dezembro, a expectativa é que o annual recurring revenue (ARR) já esteja em R$ 60 milhões. 

A base de clientes acaba de bater 50 mil (40 mil no seguro de smartphone e 10 mil no auto) e a expectativa é fechar o ano com 80 mil vidas. O crescimento é de 20% ao mês.