O fundador da Cyrela, Elie Horn, o ex-CEO da Renner, José Galló, e os fundadores da 99 e da Yellow, Ariel Lambrecht e Renato Freitas, estão apostando numa startup que aluga motos para entregadores de aplicativos, uma derivada do crescimento dos Rappis e iFoods.
Fundada por Rubens Zanelatto — um ex-analista na GP Investimentos e na antiga ALL — a Mottu tem 200 motos em São Paulo, mais de 3 mil motoboys cadastrados na plataforma e está alugando duas motos por dia desde que começou a operar há duas semanas.
A startup já estuda levantar um investimento ponte e uma Série A até o final do ano.
“Os marketplaces estão super capitalizados e numa corrida do ouro para ver quem cresce mais rápido,” Zanelatto disse ao Brazil Journal. “Eles estão expandindo numa velocidade tão rápida que o ritmo de entrada de motoboys em sua base não tem acompanhado.”
Hoje, há mais de 1,5 milhão de motoboys no Brasil, mas apenas 10% deles trabalham para aplicativos de entregas. A previsão de Zanelatto é que em poucos anos essa proporção mude drasticamente, na medida em que os pedidos de delivery hoje feitos por telefone migrem para os apps.
Apesar de não ser a pioneira no aluguel de motos, a Mottu é a primeira a fazer isso para os entregadores de aplicativos, num modelo parecido com o das companhias de ‘rent a car’. A Mottu compra as motos em escala e com desconto e depois monetiza os ativos com alugueis mensais (o pagamento é feito semanalmente para casar com o fluxo de pagamento dos aplicativos).
A grande diferença entre ela e empresas como Localiza e Movida é que a startup não terá um business de revenda. Ela vai usar as motos até sua capacidade máxima, e depois desmobilizar o ativo (usando inclusive peças das motos antigas para a reposição da frota em circulação).
Zanelatto explica que o grande desafio do negócio é a inadimplência (já que a maioria dos motoboys sequer tem avaliação de crédito) e a alta incidência de roubos de motos (um veículo mais fácil de roubar e mais atrativo, já que a demanda por peças no mercado paralelo é alta).
Para mitigar esse risco, a Mottu optou por comprar uma marca que circula apenas no Norte e Nordeste do País — em tese menos visada pelos criminosos (a empresa guarda segredo sobre o fabricante). Além disso, desenvolveu um sistema proprietário de recuperação e monitoramento da frota que usa inteligência artificial para garantir a segurança dos ativos.
Na parte da inadimplência, a startup faz uma análise minuciosa de seus potenciais clientes, criando o que ela chama de um score social, onde analisa o perfil do motoboy — por exemplo, se é casado e tem filhos.
No processo, Zanelatto às vezes coloca o pé na estrada: na semana passada, viajou 80 km para conhecer um dos motoboys que queria alugar uma Mottu. “Fui na casa dele pra entender melhor o perfil do cara e se fazia sentido alugar pra alguém que mora a 80 km de São Paulo.”
Segundo ele, as motos são apenas o primeiro passo: a Mottu quer oferecer serviços para os motoboys e depois entrar no aluguel de outros veículos, posicionando-se como ‘a’ empresa que resolve os problemas de delivery do Brasil — uma fila que só cresce.
Fugindo do padrão típico do empreendedor num mundo de capital abundante, Zanelatto promete que vai chegar ao breakeven “muito rápido.”
“Nossa tese é que todo custo fixo da empresa seja bancado pelo aluguel das motos,” diz ele. “Não queremos ser mais uma startup que fica levantando capital e queimando caixa… Estamos aqui pra fazer dinheiro, não pra gastar.”