MacKenzie Scott se tornou uma das maiores (e mais rápidas) filantropas do mundo nos últimos anos. Foram US$ 16 bilhões distribuídos para quase 2.000 organizações em todo o mundo nos cinco anos desde que ela assinou o Giving Pledge, a promessa de doar em vida mais da metade de sua fortuna.
Mesmo assim, poucas pessoas entendem a metodologia de MacKenzie, que foi casada com Jeff Bezos por 25 anos e o ajudou a fundar a Amazon. (Quando se divorciou de Bezos, MacKenzie recebeu uma participação de 4% na Amazon, ou 19,7 milhões de ações.)
As dúvidas existem porque a bilionária escolheu um caminho diferente da maioria dos filantropos americanos: em vez de criar uma fundação privada, focar em questões específicas e controlar fortemente a aplicação do dinheiro, MacKenzie dá muito mais liberdade às organizações que ajuda.
Agora, um estudo da Harvard Business School começou a encontrar uma lógica nessa abordagem.
Com dados fornecidos pela Yield Giving, que concentra todas as doações de MacKenzie, e cruzando com declarações feitas à Receita Federal dos EUA, a HBS concluiu que a filantropa prefere doar para organizações sem fins lucrativos mais robustas.
Os beneficiários da Yield Giving arrecadaram cinco vezes mais doações do que a média nos EUA. Mais: essas organizações têm um patrimônio líquido médio de US$ 46 milhões – quase quatro vezes a média do setor.
Matthew Lee, um professor da Kennedy School de Harvard e um dos três autores do levantamento, disse que a opção por organizações maiores e mais robustas aumenta a possibilidade de que as doações irrestritas sejam utilizadas de maneira mais eficiente.
Em seu site, a Yield Giving afirma que faz doações após realizar pesquisas discretas e avaliações cuidadosas das organizações, especialmente sobre seu potencial de impacto positivo na sociedade.
A parte administrativa também é importante: entre os principais critérios para receber uma doação, a organização precisa ter as finanças estáveis, histórico de vários anos, medição e evidências de resultados, além de uma liderança experiente e representativa.
Mesmo com essas explicações, as dúvidas permanecem até entre os recebedores de doações.
Em 2022, a Habitat for Humanity, uma organização voltada para o problema da falta de moradia, recebeu US$ 436 milhões – sendo US$ 25 milhões para o escritório principal e o restante para 84 programas da organização escolhidos pela equipe de MacKenzie.
Segundo a Forbes, ninguém lá dentro entendeu o motivo de tanto dinheiro ter entrado – mas, claro, todos agradeceram.
Como a Yield Giving não manda dinheiro com carimbo, as organizações têm total liberdade para escolher o melhor destino dos recursos.
A Meals on Wheels de San Diego, que entrega refeições para pessoas carentes, decidiu investir em sua sede (comprou o imóvel e o reformou) para conseguir ampliar sua operação.
Houve, no entanto, duas regras para a doação ser realizada: um relatório anual (durante três anos) mostrando o impacto da decisão, e aceitar que não receberia mais dinheiro da Yield Giving – e não adiantava implorar.
A HBS também fez um levantamento sobre quais causas receberam o dinheiro de MacKenzie: a educação foi a que recebeu mais recursos, cerca de US$ 2,2 bilhões desde 2020. Boa parte do dinheiro foi para instituições de ensino e universidades que atendem primordialmente alunos negros e hispânicos.
Em 2022, no entanto, uma mudança de prioridade: saúde e habitação foram as causas mais apoiadas pela Yield Giving, talvez um sinal que MacKenzie não queira ser reconhecida por atuar em apenas uma área.
De acordo com Lee, os primeiros dados indicam que as doações irrestritas de Scott tiveram um efeito profundo nas aspirações e na viabilidade financeira das organizações.
“Sabemos que ela acredita que o empoderamento coletivo dos líderes de organizações sem fins lucrativos é o caminho para alcançar o bem,” escreveu Lee.
Apesar de ainda não ter dado tempo suficiente para medir o impacto das doações, o professor espera que este tipo de prática sirva de exemplo para outros doadores.
“Esperamos que seja uma inspiração e um caminho a seguir para o apoio dessas organizações, que são o coração pulsante das comunidades em todos os lugares.”