A carreira e o sucesso de Ayrton Senna já foram retratados inúmeras vezes em documentários, reportagens e livros — e fazem parte do imaginário popular brasileiro.
Mas o lado humano e a vida íntima do tricampeão da Fórmula 1 são conhecidos apenas pela família e pelos amigos próximos.
Agora, isso está prestes a mudar.
Um novo documentário que será lançado em março do ano que vem quer mostrar justamente o lado pessoal e familiar de Ayrton, jogando luz sobre ‘o filho, irmão e amigo’.
Beco, o coração que batia dentro do Ayrton também marca a primeira vez desde o acidente que a mãe do piloto, Neyde Senna da Silva, fala publicamente sobre o filho — trazendo histórias inéditas da infância e juventude de Senna.
“Não estamos indo para o lado que já foi abordado em outros documentários — da carreira dele, das polêmicas, das ex-namoradas,” Pedro McCardell, o produtor executivo do documentário, disse ao Brazil Journal.
“Nossa ideia é mostrar o lado mais humano, o cara de família, que tinha os mesmos valores do piloto, mas que era muito carinhoso, muito brincalhão, muito leve.”
Bianca Senna, a sobrinha de Ayrton, disse que gostou muito do projeto do documentário porque ele nasceu de uma forma “completamente diferente, a partir da escultura que a Lalalli [também sobrinha de Ayrton] fez para a minha avó, e que tomou uma proporção muito maior do que esperávamos.”
Segundo ela, o documentário terá muito material inédito, incluindo vídeos privados do acervo da família.
“Acho que os fãs vão ficar muito impactados, porque ele traz uma intimidade que pouca gente conheceu. O Ayrton sempre foi uma pessoa muito privada, muito resguardada. Não saía muita coisa sobre a vida pessoal dele na mídia,” disse ela.
A ideia do documentário surgiu quando Dona Neyde pediu que sua neta Lalalli, que é artista plástica, criasse um busto do piloto que retratasse “o Ayrton filho, e não o piloto.”
“Muita gente fez quadros e esculturas dele, mas era sempre do piloto. Ela pediu que a Paula trouxesse o Beco de novo para ela,” disse Pedro, um amigo de longa data da família.
A linha narrativa do documentário gira em torno desse busto — mostrando desde o pedido até a execução e trazendo as entrevistas com histórias sobre Senna ao longo da execução desse projeto.
Dona Neyde conta, por exemplo, da vez que Senna, com 7 anos de idade, pegou o carro da família para dar uma volta no quarteirão. O jovem motorista acabou parado pela polícia, que não entendeu nada e voltou com ele para casa. Outra vez, Dona Neyde levou Senna com ela para a feira e o deixou no carro esperando. Quando olhou para o lado, o carro estava andando: o menino havia soltado o freio de mão para ‘ver o carro andar’.
Há ainda a história de quando Dona Neyde e Milton (o pai de Ayrton) ainda eram noivos e viram um carrinho de miniatura de Fórmula 1 numa loja da Mesbla. No que hoje parece uma premonição, Milton disse que quando eles tivessem um filho, aquele seria o primeiro presente que dariam para ele.
Por trás do documentário está a Sweethearted Pirates, a produtora que Pedro fundou em 2016 depois de uma temporada de mais de 20 anos na Europa, onde estudou literatura romântica em Oxford.
A Sweethearted Pirates é especializada em documentários de temas ligados a esportes e aventura. A produtora também fez trabalhos de vídeo para o Instituto Neymar Júnior e o surfista Gabriel Medina.
Além da Sweethearted Pirates, a produção está a cargo da Senna Brands, a empresa que cuida dos direitos de imagem do piloto. É a primeira vez que a família participa diretamente na produção de um produto audiovisual.
Segundo Bianca, o lançamento do documentário vai marcar os 30 anos da morte de Ayrton e a ideia é lançá-lo no dia 21 de março próximo — o aniversário do piloto.
Além do documentário, a família fechou um acordo com a Netflix para a produção de uma minissérie ficcional de seis episódios baseada na carreira e história de vida de Ayrton. O elenco da série já foi escolhido, mas ainda não há uma data oficial para o lançamento.
Os dois produtos audiovisuais são a faceta mais pública de um trabalho amplo que a família Senna tem feito nas últimas décadas para manter vivo o legado do piloto.
Com o Instituto Senna — financiado em parte com os recursos arrecadados com a Senna Brands — a família já ajudou mais de 36 milhões de crianças com projetos que buscam melhorar a educação pública do Brasil.
Bianca disse que o Instituto Senna atua como um centro de desenvolvimento de tecnologias educacionais.
“A indústria farmacêutica vê as doenças e pensa em formas de desenvolver o remédio. A gente faz a mesma coisa com a educação,” disse ela. “Com o analfabetismo, por exemplo, fomos entender porque isso acontecia, as variáveis por trás, e criamos uma metodologia de ensino para resolver os problemas que as escolas não conseguem.”
Na foto acima, depois de cair do caiaque Senna nada numa corredeira no Canadá, numa viagem com amigos em 13 de junho de 1984. Foto de Paul-Henri Cahier. Abaixo, o trailer do documentário.